quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Eddie Vedder - Society




É um mistério para mim
Nós temos uma ambição que concordamos.
E você pensa que você tem que querer mais do que precisa.
Até você ter tudo, você não estará livre.

Sociedade, sua raça louca.
Espero que não esteja solitária sem mim.

Quando você quer mais do que tem
Você pensa que precisa.
E quando você pensa mais do que você quer
Seus pensamentos começam a sangrar.
Acho que preciso encontrar um lugar maior
Pois quando você tem mais do que imagina,
Você precisa de mais espaço.

Sociedade, sua raça louca.
Espero que não esteja solitária sem mim.
Sociedade, realmente louca
Espero que não esteja solitária sem mim.

Tem aqueles achando, mais ou menos, que menos é mais
Mas se menos é mais, como você mantém um placar?
Quer dizer que pra cada ponto que faz, seu nível cai
É como começar do topo
Você não pode fazer isso.

Sociedade, sua raça louca.
Espero que não esteja solitária sem mim.
Sociedade, realmente louca
Espero que não esteja solitária sem mim.

Sociedade, tenha piedade de mim
Espero que não fique brava se eu discordar
Sociedade, realmente louca
Espero que não esteja solitária sem mim


Eddie Vedder

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Decidi me casar
Propus a minha vida
Decidi casar...
Prometi sinceros votos de bem estar
De bem querer, de bem viver...

Darei a ela tudo de virtuoso
e em seu gozo, a quero plena,
a quero morena dos dias de sol
Quero o seu gosto em minha boca
Quero sua pele em minha roupa
E a todo momento, em seu acalento,
eu vou me findar


Eu hei de cumprir!
De mim tudo que pode ser
De mim tudo que for renascer
A ela será ofertado, será remendado
Sem fim e sem estar em mim,
Qualquer solidão em tristes mãos
Pois agora a tenho
Em versos com o gosto
De seu cálido viver disposto
Que chora... mas sem escravidão


É...
deixo agora a vida conduzir meus pés
Em meio a triste estrada dos que virão
Mas não desanimaremos não!
Contigo hoje eu hei de me casar
E lá, contigo hei de estar
Nas manhas de domingo
Lendo o canto dos canários
Lembrando de nossos calendários
Dos dias que esqueci
De como sozinho um dia
Eu já sofri




Fernando Wolf





O Silêncio das Estrelas - Lenine

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A sua chave






Ah eu tive um amor
Destes que os filmes mostram com calor

Mas como de repente, meio incoerente
Te vi partir, sem ao menos me pedir

Você deslizou entre meus dedos
E de mãos fechadas ajoelhei-me ao chão

Desde que você se foi
A saudade sem piedade desafiou os meus brios

Mas veja bem, não sou mulher de ficar de joelhos
Vendo o futuro esmagar meus desejos

Pois tive que dar chance a quem me queria amor
Mesmo que fosse só para abrandar a essa dor

Sim, inevitável aprender a amar a outro homem
Para esconder os retratos seus estampados em meus olhos

Estava feliz enfim, estava com quem eu escolhi a dedo
Deu-me outros lugares, respirei a outros ares

E naquele tempo em que só o queria era esquecer
Os ventos insistiam em soprar o seu perfume

Disseram-me que estava louco,
Bebendo vinho e destruindo caminhos

Meu bem, algo aconteceu,
Tive a certeza, você não servia mais para ser meu

Eu tinha beijos e abraços apertados
Tinha o amor de meu amado

Mas algo ali, de novo insistia
Sem permissão nenhuma em minha porta bateu, e doeu...

Era você, apaixonado, com os olhos encantados
Por outra que não eu

Soube que era alguém que tomava o seu ar
Tinha sua morada no peito que um dia eu tanto quis estar

Tive vontade de fechar de vez todas as portas
Te chamar de calhorda, esquecer que um dia sequer tive dor

Ah meu bem, ainda tinha a esperança, lá, jogada entre lembranças
Dum novo reencontrar, ali no destino, nas curvas de outros caminhos

De nada se fez, mais uma vez, senão a morbidez
Dum romance que se apagava de vez

Hoje entendo... ah se não fosse o tempo um grande senhor
Que rege as desavenças e reconstrói o amor

Como é fácil esquecer dos dias de chuva e rancor
Como é delicioso lembrar o que nos fez amor

Se um dia o destino resolver brincar
E nossos olhos reencontrar, saiba que a ti sempre guardei o amor

Pois ainda tenho comigo a dor, esta coisa aqui do peito
Que se deita nas paredes, a suspirar em melancolia os dias de calor

Meu bem, ainda sei que guarda a chave da cozinha
E se o tempo lhe fizer lembrar, que te dê coragem de entrar

E sem bater, como quem sempre foi da casa,
Me abrace com cheiro de pão da manhã





Fernando Wolf

Zorba The Greek







Porque para se viver, é preciso um pouco de ternura...
                 

                                                       E um pouco de loucura...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Videos featuring Marinda and Solari (lista de reprodução)




Entrem no link http://marindaandsolari.bandcamp.com/ e escutem a esta playlist fantástica.

Também tem o site da dupla http://www.marindasolari.com/stamps.htm

Muito bom!

Desejo-te paradeiros bons
Onde possas repousar a tua consciência
Em leve folha por sobre poça límpida
Longe, lá longe de meu perdão

Quero que esqueças de meu bizarro
Que bebas de fontes puras
Mesmo que eu tenha que viver, ah viver
Sem ti, um dia... sem o meu colibri




Fernando Wolf

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Uma Prova de Amor [Trailer]




Para a gente pensar um pouco mais sobre a dualidade da  vida e da morte. Realmente emocionante. Uma história de amor em família.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O mundo de voltas distantes



Eu tenho agora que voltar a minha escola
Que ensina a força do perto com as palavras do longe
Que acalma a perguntares com a nostalgia do certo

Agora hei de ficar mais forte
Lá na finitude do ser, com os olhos abertos
Hei de chorar com a possibilidade de um novo partir
Hei de ficar por lá e quem sabe melhor serei
Sabendo o que hoje ainda não sei
Talvez descubra que lá o ficar de vez
Enobreça ao homem que em despedir-se
Insiste por ali

Veio o tempo. Vieram juntas as belezas de um novo momento, seu presente, seu único nascer possível, sua única chance de existir. Em seus segundos, digeria agora os fragmentos de sua existência...

Eu vivo o silêncio de um ir
Eu sofro o desejo de estar de volta ali
Eu tenho a coragem de permitir
De estar agora longe de um dia partir

Eu quis suportar o escuro sem desistir
Só para provar das camas que eu não dormi
Eu quis dizer à saudade por onde vivi
Sem saber que um dia ela me diria
“Tu sabes agora a dor do não estar aqui”

Bem se sabe agora o poder de sorrisos repetidos
Destes que o peito já conhece, destes que nunca se esquece
Bem se sabe a força de bons abraços, daqueles beijados
Que apertam a distância assim espremida
Com gotas da manhã a correr peito afora
Até formarem imenso rio,
A desembocar na mais profunda das saudades

Ah se não fosse a distância um saber da importância de um sorriso perto
Seriam os dias bons, elogiados sempre com rosas
Em longas prosas, sem o espírito ousar se entediar
Só por ali perto estar, o jardim, que de todos os tempos,
Mais lhe serviu, mais lhe vestiu, mais lhe trouxe amor
Ah sem dúvida ficaria lá, sem ao menos pestanejar

E assim colheu seus frutos naquela terra de ninguém. Soube tirar da chuva a respostas a sua inquietude, pelo simples colher de suas flores. Era feliz, era força motriz e em sua frente unicamente o seu nariz. Queria agora o mundo afora. Queria saber quando o passo seria seguido de outro. Se punha de migrante dos mundos, era novamente feliz assim...

Mas é o perto o grande incerto
Do não saber do que ocorre do lado de lá
Lá na lonjura, na cidade que fica a Deus-dará
Sem o lá de lá, não se aprende a felicidade que tem um voltar
Do milagre que é reconhecer uma rosa entre outras mil
Do encanto das lágrimas em outros olhos
Tão seus, tão meus, que choram...
O simples estar aqui




Fernando Wolf



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Rio selvagem



Desbravava um rio virgem de formas, com corredeiras desenhadas pelo destino. Era frio e selvagem. As águas corriam por entre pedras dolorosas, contundentes, sentidas pelos ossos. Já estava ali há bastante tempo, seguindo seu curso natural. Tinha em seus músculos a certeza de que um dia iria sucumbir ao cansaço. Persistia, no entanto. Era obstinado com a vida. Tinha a certeza de que era inevitável seguir em frente, mas que este seguir deixaria marcas para sempre.
Com suas cicatrizes, já tinha aprendido pela forma mais dura de sua existência que toda a sua dor, por algum motivo, havia se transformado em força. Era a única coisa que mantinha seu fôlego. Havia aprendido algo de destreza. Nadava agora antevendo aos perigos. Evitava confrontos, escolhia os caminhos menos tortuosos. Era hábil em evitar sua dor.
Em sua juventude seguia as corredeiras com obstinação. Queria chegar ao seu destino, o quanto antes. Mas agora, com a velhice em suas costas, com o corpo maculado, sabia que, por mais que nadasse, seu triunfo só se daria se ali, flutuando calmamente por sobre as águas, seguisse seu rumar. Do contrário, se mantivesse o mesmo caos em seu corpo obstinado, não restariam forças para chegar. Então, a partir de um certo momento em sua vida, aprendera também a apreciar os peixes, a mergulhar em águas mais calmas e observar a vida que ali também se fazia exuberante.
De tempos em tempos, punha-se a mirar as margens e seus bosques. Por vezes, dava-se o privilégio de ficar ali por sob o sol, vendo o seu rio passar. Pensava se um dia aquilo iria acabar, se o rio realmente viraria mar, se seria diferente, se veria outros tipos de peixe, se iria se adaptar.
Mas acima de tudo, sentia agora algo diferente: nunca mais veria o mesmo rio passar, por mais que tentasse voltar. Mirava em lágrimas os cortes em seus braços dos tempos em que lutava contra as águas, na esperança de um dia poder voltar... em vão...
Conformara-se com o seu destino, seu eterno nadar. Fluía agora calmamente na corrente de seus sonhos e para trás nunca mais precisou olhar.



Fernando Wolf

sexta-feira, 2 de novembro de 2012


Se em meus castelos havia quem habitasse os mais belos bailes
Era sem dúvida tu, que em meu peito tinha sua morada
Possuía em palavras de amor o desenho do brasão de meu raro
Que triunfava por sobre qualquer chaga, sobre qualquer dogma

Pelos dias de mansidão d`alma sabia que ainda flutuaria
Pois preserva o respeito por toda nobreza do sentir
Sabes que em mim tens a tua eterna guarida
Teu último soldado, em vigília sem fim, de teu belo coração...


Fernando Wolf

sábado, 6 de outubro de 2012

Paz da manhã






Quando vêm a fervura em caldeira de vinho
Sê o orvalho dum cacho de uva 
Em manhã serena de domingo
Onde os pássaros de cantos harmonizantes
Afugentam para os rios a neblina das parreiras
E lá ao fundo em construções de pedra
Pode-se ouvir um pequeno povoado da terra
Cantando cantigas de louvor
Que arrepiam ao espírito constrangido
E que na paz dum silêncio sorrateiro
Vem a luz por sobre os morros
Em amálgama à esperança de todos
Que esperam pacientes um vinho bom
Que por agora descansa calmo
Na potência das uvas molhadas
Sob o sol da primeira manhã



Fernando Wolf

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Trem da vida - filme





Trecho retirado do filme "Train de vie" (Trem da vida) com o diálogo entre um louco (SCHLOMO) e um rabino:


SCHLOMO:
Deus criou o homem a sua imagem
Isso é lindo!
Schlomo á imagem de Deus
Mas quem escreveu isto no Torah?
Foi o homem, não Deus
O homem...
Escreveu sem modéstia, comparando-se a Deus
Talvez Deus tenha criado o homem
O homem...
O homem filho de Deus, criou Deus só para se inventar
RABINO:
pode repetir?
SCHLOMO:
O homem escreveu a bíblia para não ser esquecido, sem se importar com Deus
RABINO:
Já temos problemas demais
SCHLOMO:
Não amamos e não oramos à Deus.
Ou melhor, imploramos para que nos ajude aqui na Terra
Mas não nos importamos com Ele
Só pensamos em nós mesmos
A questão não é saber se Deus existe ou não
Mas sim se nós existimos





terça-feira, 25 de setembro de 2012

A guerra dos botões - La Guerre des Boutons



Um filme para trazer a infância à tona. Traz as inocentes perversões , as rixas, os ciúmes mas principalmente traz com muita sensibilidade a construção de virtudes e valores dentro uma história que remete ao mágico. Veja na foto o detalhe dos joelhos esfolados, só quem já viveu fora dos portões sabe a saudade que isso dá. Um bom divertimento...



domingo, 2 de setembro de 2012

Guardião



Não quero desfazer-me de outros adjetivares
Mas é em ti os olhos que idolatro
São redondos, escuros e bonitos
Cercados pela fala constante e ponderada
Que acalma a alma e acalenta ao ego

Tenho para mim, eles aqui, em meio às cortinas
Que se fazem espetáculo tênue, não mostrado
É algo de ti guardado, mas que a mim
Prende uma singela atenção, vinda lá deste coração

São teus olhos, olhos de meiga menina  
Preocupada com a guarida dum aprender
Sufocada pelo tempo ainda não vivido
Mas que mostra ali enrustido, em nuances febris
A mulher em ti contida, madura de atos guardados
Que esperam deixar o recado, a quem for
Que já sabes o que é o amor
E ali conheces o desejo, o sabor do medo
De toda natureza que pulsa em ti

Tens pois agora um guardador
Destes teus olhos inconstantes
Que mantenho comigo, em minha estante
Eles ali expostos, a matar a saudade
Pois aqueles olhos agora são meus,
Tão seus, e continuam a soprar
Nas doces lembranças, que guardo cá


Fernando Wolf

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Primeira infância, primeiro coração





Quase todos os fenômenos que compõe uma infância, tem agregado um quê de nobreza. Até mesmo quando brigávamos, sabíamos que não era para valer. A surra não podia machucar muito. Tínhamos uma espécie de “fair play” interior, que era prontamente ativado quando passávamos dos limites.
A infância carrega lições poderosas, lições que interlaçam os nossos pensamentos e hábitos até hoje. Não é muito raro em situações que requerem um julgamento moral, seja na escolha de não estacionar em local proibido ou mesmo em escolhas que envolvam sair em vantagem por sobre alguém, algo lá, lá do fundo de nossos sentimentos, enraizados naquela criança, algo nos faz sentir a noção de certo e errado, como antes já o fora sentido.
Víamos nos olhos dos adultos a esperança refletida de nossas próprias existências. Era um peso que carregávamos e que logo se dissipava por entre brincadeiras despreocupadas. Mas sabíamos lá no fundo, que carregávamos uma responsabilidade, de seguir os nossos sonhos. Isso era sentido, parecia tudo muito claro... Uma das coisas que nos faz falta, nesta vida de gente grande, é justamente esta obviedade dos sentimentos... Agora para fazer sentido, parece que racionalizamos em tudo. As coisas precisam ter um porquê de ser. Tenho aquele relacionamento, pois já é hora de me relacionar com alguém. Todos compram, tenho de ter também. Contudo, as coisas legais da vida ocorrem justamente quando se foge disto tudo. Por isso que, após uma viajem, contamos com entusiasmo justamente as coisas que fugiram ao plano.
A vida pode ficar muito chata se abandonarmos os nossos pequenos “EU`s” . A vida pode ficar muito complexa se não seguirmos o que foi já sentido lá trás, nos redutos de uma infância pura de nobrezas. A vida é uma para não se seguir o coração de uma criança.

Fernando

domingo, 19 de agosto de 2012

Por vezes, volto a reviver o menino
é um presente dado ao peito
Sentado naquele velho balanço de jardim
A viver a inocência de um amor de altar
que insiste ali, num rumar sem fim

É... já é sabida a dor do porvir
Mas, veja bem, os ausentes já não o podem mais sentir
Afinal é um presente , não pedido, nem implorado
Pois que mal tem vestir os retalhos
para afagar o arrepio da pele,
que desfalece por nada ter


Ah sim, o discurso em monólogos incansáveis
de cartas escritas e guardadas
nunca (!) jamais enviadas
afinal a mão treme na vastidão da incerteza
na suspensa beleza deste velho advir

O usual silêncio, já não conforta mais
é preciso agora ouvir aos sonetos educados
de segredos não revelados
Que fazem emudecer desampontado
O garoto relembrado, daquele jardim
A balançar em suas mais doces desilusões pueris

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

domingo, 29 de julho de 2012

O vendedor de flores



Por de trás de cada ser existe um segredo, uma luta, um amor, uma chance perdida, uma vida construída. Dia-a-dia percebemos, encontro a encontro, a superficialidade destes seres que nos cercam. Julgamos – montados em nossas próprias personalidades – o que vimos, o que nos é transferido, o que nos é captado em segundos por nossos limitados sentidos. Estimamos inconscientemente que o julgamento é de fato uma verdade. Passamos então a conviver por verdades criadas.
Há um porém que todos já devem ter vivenciado um dia. As verdades mudam...
Vejam aquele vendedor de flores, vendendo suas rosas e cravos para aqueles casais sentados ali naquele café da esquina. Um senhor franzino, de terno batido, de sapato desbotado, vestindo seus óculos de armação firme e lentes pesadas. Alguns o veem e compram o seu produto por pena. Tem pena de um pobre velho que, apesar de avançada idade, deveria estar trabalhando de bar em bar na esperança de ir para casa com algumas moedas a mais, para cobrir suas necessidades.
Mas faço um convite, olhe para os olhos deste velho. Há um mundo que vos aguarda. Olhe com atenção por de trás destes óculos. Veja os olhos marejados de emoção pelo simples fato de ver aquela jovem moça receber de seu amante, com carinho, a flor vendida segundos antes. Pois para quem olhar mais fundo, verá que ali em seu Benjamin habita uma alma saudosa. Sim, ele já vivera um grande amor, seu único amor, para o qual há dez anos levava flores todos os domingos à tarde, recostando-as por sobre a lápide de sua falecida esposa. Era ela a única pessoa a quem fora capaz de amar com todas as forças de sua existência. E agora vendo ali, aquela jovem moça enrubescer-se com uma rosa, revivia com seu coração saudoso, as boas lembranças do seu doce romance, de tempos atrás.
Agora que já conhecem seu Benjamin um pouco mais, saibam que ele não estava ali por um acaso. Poderia vender outras coisas como já o fizera em épocas passadas. Já fora um habilidoso comerciante e se aposentara com certo conforto financeiro e social. Mas houve, naquela altura da vida, um chamado que optou por escutar. Era sua nova vocação. Era por isso que estava ali, noite após noite, vendendo seu encanto em forma de flores. Era a forma que encontrara para reviver o seu romance. Afinal, era ele, como perceberam, um romântico.
Agora venham, voltemos à superfície da situação. Não há de forma alguma como ver a imensidão por de trás de cada olhar. O mundo nos engole, a rotina nos sufoca. Mas não custa, vez ou outra, parar e prestar atenção, ao fantástico universo que habita em cada um. Convide-se por vezes, ao desfrute de explorar universos paralelos, sem olhar em demasia ao céu. Pois olhe ali adiante, por de trás de outros óculos... Verás as verdades se transformarem, a cada estrela nova que mirares.


Fernando Wolf


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Mantendo a casa limpa




Vivemos em uma era de "narcísos" e seus carros. As pessoas – inclua-se você e eu - atrapalham-se em diferenciar seus personagens montados ao que realmente são. E para fugir de tal ilusão, o policiamento deve ser intensificado. Para tal, de nada vale a represália aos defeitos, pois mais efetivo é o engrandecer das virtudes.
Contudo, o porquê de vivê-las deve ser verdadeiro para o “eu”, deve ser engolido e digerido. Do contrário, caímos noutra ilusão de querer provar a outrem de que temos uma camisa mais bonita do que realmente é. Ou tentamos vender de forma forçada a nós mesmos que este alguém comprado – a traduzir definitivamente o que não somos – pode substituir nossa real essência.
A virtude deve ser buscada nos redutos mais profundos do ser. Ela está lá, em algum lugar de nós, nos momentos em que é admirada em outro alguém. Preste atenção... escute... Enfim, os outros são belos espelhos de nossas almas.
Então porque não desenterrarmos as virtudes de onde estavam resguardadas e trazê-las à tona ao nosso hábito?  Uma tarefa de diarista que, todos os dias, lava a casa suja de poeira da estrada. O trabalho deve acabar um dia – na aposentadoria da vida - mas até lá vale a pena manter a casa mais limpa o possível. Afinal é o reduto mais precioso que temos.
Metáforas à parte, ficam aqui frases que fizeram a semana pensativa e complementam a ideia central:


“It used to be about trying to do something. Now it's about trying to be someone” Do filme “A dama de ferro”, da fala de Margaret Thatcher a uma de suas admiradoras da nova geração. Tradução: “Costumava ser sobre tentar FAZER algo. Agora é sobre tentar SER alguém”


“Torne-se comum e você será extraordinário; tente se tornar extraordinário e você continuará sendo comum.” Osho



Fernando Wolf


Fonte foto: http://www.mmforsberg.com/blog/page/2/

terça-feira, 24 de julho de 2012




A arte de equivocar o vazio
Torna um sofredor pintor de sua tragédia
Quem desenha maçãs em seus quadros
Sabe bem o gosto do papel... quem não...
De forma alguma o desejo pode se tornar
Enfim, um certo almejo de outro lugar
Diversas fontes já se esgotaram a explicar
Que é aqui mesmo onde devemos estar,
A entender a dor de um corpo
 Na dolorosa contundência dos ossos


Fernando Wolf


Foto: Thayne Soldatelli Andrade

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Toujours


Le fabuleux destin d'Amélie Poulain 


Uma história de amor contada com o cotidiano.

Beau..

Les Petits mouchoirs


O filme francês "Les Petits mouchoirs" - lançado com o título "Até a eternidade" no Brasil - é dirigido por Guillaume Canet e tem ao todo duração de mais de duas horas. No entanto, o enredo trágico cômico é desenhado de forma inteligente e emocionante, sendo inevitável prender o interesse na vida de cada personagem. Marion Cotillard (minha preferida) está como sempre bela e esbanjando talento.


 A trama inicia com uma tragédia em meio a um grupo de amigos, mas vai aos poucos se tornando mais suave, para enfim, finalizar com maestria. As lágrimas são inevitáveis. O filme força-nos a refletir sobre o que devemos valorizar nas relações com os amigos, amores e com a vida. 



Fernando Wolf

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Doce epifania



Quem já não quis mudar-se para uma ilha, longe de tudo e todos os que incitam ao caos. Bem verdade que cada um sonha com a sua ilha, a sua própria, do seu jeito. Cada um tem um paraíso guardado dentro de si. Quem dera eu então, viver em uma ilha, que não seria necessariamente cercada de mar, mas por campos dourados, laminados por ventos vindos do Sul.
O ranger do relógio traria o dia, uma vez, e a noite outra. Seria assim o tempo contado, mas também fracionado, pelas vezes do leite ordenhado dos ventres das vacas em seus cercados. Da varanda larga colocar-me-ia numa rede num fim de tarde para rir da meninada a caçar ovos por entre poleiros, espantando com medo, as galinhas chocadeiras.  
Lá, o dia-a-dia jamais cansaria. A música suave de estradas passadas caminharia por entre os corredores, chamando todos à sala, frente à lareira, para ali ficar no calor do fogo, ouvindo os estalos da lenha.
Esta ilha de modo algum receberia sinal de mundo outro. Lá o único jornal, seria o da vizinha, que daria bom dia com notícias do povoado de lá. Assassinatos, quadrilhas e corrupção não passariam mais na televisão. Cortaríamos assim a escola de um ladrão.
A tranquilidade se daria por gestos simplórios. Mostraria a paz por entre aqueles, que já tiraram do tempo, demais amarguras, para se importar com as frescuras, dos dias a mais.
E para quem ali quisesse viver, teria de aprender a ouvir os canarinhos com atenção, pois assim, dum continente de poucos ouvidos, conseguiria se abrir mão. Nesta doce epifania, se poderia a paz sentir. Seria ali num repousar das costas no gramado, que se escutaria, com o sol recobrindo a face, o que a vida realmente tem a dizer. Aprenderíamos assim um novo fazer do pão, de nosso próprio trigo plantado, sem mais prestar atenção, às receitas criadas no caos do mundo de lá.
Ilha assim, levo em meu coração. Coloco lá quem eu quero, coleciono as pessoas que amo, envoltas nos sentimentos mais nobres que já fui capaz de sentir. E por vezes, permito-me para lá fugir...

Fernando Wolf

Jorge Drexler "El museo de las distancias rotas"




Un silencio que llego de lejos
Fue a ocupar mi corazón vacío
De la pena que se llevó flotando el río.

Cada cual a merced de su corriente
Y a merced de la gravedad, el velo
De pronto el tiempo quedó latente
Tu mano en mi pelo, tu mano en mi pelo.

Y un silencio con tus mismos ojos
Fue a ocupar mi corazón vacío
De la pena que se llevó flotando el río,
De la pena que se llevó flotando el río.


Jorge Drexler

terça-feira, 10 de julho de 2012

Dias Frios



O entardecer de um dia plúmbeo
Nega ao espírito a completude
Em meio a grilos e árvores chorosas
O sereno joga o frio por sobre a face
Deste cálido ânimo, um triste soldado
Que solta pelas ventas seu desânimo
E faz a boniteza perder toda nobreza
Por um âmago a sofrer sem cor nenhuma
O cair das pétalas desbotadas uma a uma
Nestes dias frios, com cheiro de mato


Fernando Wolf

Maria Callas - L'amour est un oiseau rebelle




L'amour Est Un Oiseau Rebelle
L'amour est un oiseau rebelle
Que nul ne peut apprivoiser,
Et c'est bien en vain qu'on l'appelle,
S'il lui convient de refuser.
Rien n'y fait, menace ou prière,
L'un parle bien, l'autre se tait;
Et c'est l'autre que je préfère:
Il n'a rien dit, mais il me plaît.

L'amour est enfant de bohème,
Il n'a jamais connu de loi:
Si tu ne m'aimes pas, je t'aime;
Si je t'aime, prends garde à toi!

L'oiseau que tu croyais surprendre
Battit de l'aile et s'envola ?
L'amour est loin, tu peux l'attendre;
Tu ne l'attends plus, il est là!

 ______________________________


O amor é um pássaro rebelde
Que ninguém pode prender,
Não adianta chamá-lo
Pois só vem quando quer.
Não adiantam ameaças ou súplicas,
Um fala bem, o outro cala-se
É o outro que prefiro,
Não disse nada, mas agrada-me.

O amor é filho da boêmia,
Que nunca, nunca conheceu qualquer lei;
Se não me amares, eu te amarei;
Se eu te amar, toma cuidado!

O pássaro que julgavas surpreender
Bateu asas e voou
O amor está longe, podes esperá-lo
Já não o esperas, aí está ele,

À tua volta, depressa, depressa,
Ele vem, ele vai, depois volta,
Julgas tê-lo apanhado, ele te escapa;
Julgas que te fugiu, ele agarra-te.
O amor é filho da boêmia,
Que nunca conheceu qualquer lei.
Se não me amares, eu te amarei;
Se eu te amar, toma cuidado!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Joshua Bell



O mesmo violinista, Joshua Bell, acima em uma pintura sem moldura e abaixo em uma com. Somos ou não grandes apreciadores de molduras? Quantas obras de arte de nosso dia-a-dia deixamos passar por não concebê-las como arte. Mesmo o cotidiano pode ser arte quando percebido como tal. Basta parar e contemplar o que toca ao peito.


Fernando Wolf

domingo, 8 de julho de 2012

Os Salmões

 Um jovem tinha agora a morte como parte de seu cotidiano. Era sua nova profissão como “cerimonialista fúnebre”. Tinha de enfrentá-la face a face. No entanto, isto lhe trazia conflitos internos e externos – tinha o descrédito da sociedade e de sua família que achava aquilo um trabalho indigno. E esta bela cena arranja-se em cima disto:
Em uma ponte baixa, no interior do Japão, o jovem observava pensativo. Eram salmões que nadavam corredeira acima por entre as pedras do riacho. Um ancião aproximou-se e perguntou se ele estava admirando os peixes. Quando, por entre os que remavam bravamente aos seus destinos, boiavam alguns desfalecidos seguindo o fluxo do riacho. Era natural ao ciclo do salmão. O jovem, em sua perplexidade reflexiva, indagou ao velho “qual o sentido de tanto esforço se a morte era o destino daqueles peixes?”
O ancião já dando as costas ao jovem, voltando calmamente ao seu caminho, respondeu: “Talvez eles queiram voltar para onde nasceram...”
Uma cena simples e muito rica em contemplação. Pois temos muito de salmões... não? De algum lugar viemos e a algum lugar iremos – ou voltaremos. Existe conexão entre a origem e o fim? Talvez seja esta angústia existencial que motive a procura de nossa origem, de saber a nossa história, de saber quem foram nossos antepassados, o que fizeram, quais os seus feitos, o que nos trouxe até aqui. Quanto mais nos aproximamos da velhice – da morte porque não? – maior a tendência desta busca. Eis que entender o passado, poderia nos dar fundamentos de imaginar um futuro, de poder palpar algo teoricamente impalpável. Afinal a busca ao passado, poderia se constituir de uma busca por um conforto existencial a nos conectar com a vida e com o mundo.
A cena descrita acima vem do filme ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009 “A Partida” – Okuribito/Departures. Foi gravado em 2008, dirigido por Yojiro Takita e ambientou-se no Japão. Tem várias cenas estranhas, carregado de significações. Um bom filme.





Fernando Wolf


terça-feira, 3 de julho de 2012

To Rome With Love




É Woody Allen, é bom, com uma mistura de elenco interessante. Traz alguns enredos, distintos uns dos outros, passados na belíssima Roma. Mesmo sendo fragmentadas as estórias, não se consegue desprender a atenção ou perder a noção de continuidade. O humor é delicioso, habilidoso, com deixas que só este diretor e suas neuroses conseguiria tramar. Deu para matar a saudade de Roberto Benigni também que está engraçadíssimo como sempre. Penélope está fantástica, num vestido vermelho de deixar qualquer um de joelhos. Faz da sedução uma brincadeira que, apesar de hábil, para ela parece ser muito natural. Um filme excelente para quem vive num caos, pois pelo menos para mim, o mundo ficou para trás por alguns minutos. Só mesmo Woody Allen. Assistam!


Fernando

Slab City Life Off the Grid | Subculture Club



The freedom of just exist...

Maybe, is just inside

Maybe...

We just need a time....

sábado, 30 de junho de 2012

Amanhecer




Quando o dia acorda leve
Os pensamentos são suaves como manteiga
Os pássaros cantam em sinfonias afinadas
As nuvens desenham os sonhos bons
E na geladeira, recordações de estradas passadas

Quando os campos florescem
Já não há mais lugar para a noite
Os córregos vertem de pedras
As montanhas acalentam os vales
E o silêncio abraça seus moradores

Quando o peito acorda leve
As palavras são doces portugueses
A boca cheira a mel do campo
O café é de panquecas e frutas
E o levantar é um cúmplice preguiçoso

Quando o sol aquece a face
O ar entra e sai tranquilo
A chuva dá lugar ao orvalho das folhas
A música chama para um passeio
E a paz calmamente vai tocando a alma





Fernando Wolf

domingo, 24 de junho de 2012

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Saudade do Caipira



A saudade é uma tristeza que vem do peito, vem do fundo, lá dos fundos dum quintal... vem com cheiro de churrasco de domingo onde os primos brincavam felizes pelo capinzal. A saudade é uma devoção entre as almas, que vem ao corpo provar que, sem o amor de acalento, passamos por um frio de doer. Frio tão gélido que faz o peito tremer sem igual. Basta então soprar por sobre o vidro molhado de garoa para desenhar as nuvens que costumavam encobrir os sóis de outros verões. Eram nestes dias que vinham as suaves brisas por sobre as faces dos que conosco não mais perto estão ou quiçá mesmo, já viajaram para outro mundão.
As lágrimas, quando de saudades, sequer avisam. São safadas, desbocadas, imprevisíveis! Basta uma ligação e, sem mão, elas se fazem enfileirar ladeira a baixo pelas bochechas despencando uma a uma por sobre o telefone. Por fim, esparramam-se por sobre o capim que costumávamos pisar, lá, lembra, em meio àquele quintal.
Ah e os cheiros! Grandes âncoras que atracam o peito nas mais profundas águas de nossas lembranças. Fazem-nos mergulhar em meio aos pastéis caseiros da vovó fritos em banha ou mesmo em perfumes de amores deixados lá nos fundos dum cafundó.
Quem sente saudade sabe bem o que é lonjura. Palavra besta que atina os corações só por desejarem aquela “perteza” gostosa das rodas de conversa na varanda. Ou aquele abraço gostoso como prova do enlaço das mais virtuosas emoções. Mas vem o longe que costuma envolver o coração com tamanha força que faz paralisar qualquer esperança de um reencontro bom. Sorte a Deus Pai que a isto não se deve mais de uns minutos. Logo aquele sofrido coração volta a bater no compasso do dia-a-dia, da nova vida que será sentida, da mesma forma, nos dias que se virão. "Êh trem bão..."

Fernando wolf

domingo, 17 de junho de 2012

Ressuscitar





Quando os olhos encontrarem-se fechados
Que se abra o peito à paz que há em ti

Quando o sentido de tudo se esvai
Procure pelo sabor da nobreza de um pai

Se só vês sombras projetadas em iguais
Busca em ti a luz que também há em outros a mais

Se o que rege o corpo teima em não escutar
Eu imploro, abra olhos, chore e contemple o amar

Quando achares que não há mais forças para tentar
Escute ao longe, guerreiros ocultos em ti virão ajudar

E se achares que não mais mereces ao menos tentar
Ajude a outro homem, que possa por isso também passar

Há sempre um tempo para mudar, escute o coração
E encontrarás a mais nobre razão para um novo ressuscitar





Fernando Wolf

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O tempo da ausência




Outrora a mente embebia-se por sobre diálogos
Que pareciam tão reais em seus sentidos tão vivos
Bastava um segundo e lá mirava a mente a sair do corpo
E tudo voltava a ser uma vitrine de cabeças falantes
Que atuavam em nuances que a vida lhes traziam
Nada mais parecia eterno e, muito menos, importante
Nem a mais fugaz das distâncias entre o certo e o errado
Tudo isso se desfazia como castelos de areia com o mar
Que contavam histórias de tempos atrás, nunca mais...
Tempos que o passado engoliu e o presente nem viu
E tudo se desmanchava em areia por entre minhas mãos
Liquefazia-se na realidade de meu próprio mundo
Um universo criado por algo em mim que só Deus
Poderia saber o que se passava pelos cantos dali
Era tudo suspenso e leve...  tudo levava ao nada..

E então...

Vinham os minutos fracionados que me levavam ao chão,
Pois o presente imposto fazia de seu gosto provado
O tempo novamente era sentido num pulsar no peito
A cada batida, mais um segundo vertia de mim
Numa sangria desatada de minha existência
Era essa a incumbência de quem sentia a vida fluir
Sentir aos poucos a alma do corpo esvair 
Dando adeus aos corvos que ainda insistem por ali


Fernando Wolf

Img: "Wheatfield with Crows" de Van Gogh

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Balada Para un Loco - Astor Piazzolla e Eduardo Ferrer



Um tango com ternura
Enobrece à alma mais pura

Pois...

Brindemos com cálices de vinho
Aos loucos de corações vizinhos

Fernando

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Uma flor em meio ao cimento




Todos os dias, dias após dias, o inevitável frio soprava os corredores. Eram doentes e doentes invariavelmente eram carentes. Debilitados na fragilidade dos estados de seus corpos e espíritos. Às almas frágeis, fazia-se pesar o não poder levar do calor que costumavam ter por sobre suas faces em dias de sol.
Entretanto, havia algo em meio aos corredores e quartos que guardava uma preciosidade, uma flor, que trazia seu próprio sol. Ela era uma menina de pele alva da cor de noites de lua cheia, de cabelos vermelhos dourados que pareciam da fênix tirados. Estava agora em seu estado mais febril, vinda de duras batalhas com sua própria sorte. Dias e noites lutando por não apagar a chama que mantinha sua energia vital. A precariedade, a total entrega e a carência de intimidade já fazia parte de seu cotidiano. Era doloroso vê-la. Uma menina tão moça. Um martírio tão grande.
Todo o ar que tragava, já havia dias que por sua boca não passava. Era por meio de cânulas e aparelhos que respirava. Um incansável ir e vir artificial. O sono não era natural, queria dormir, mas seus olhos não fechavam quando desejava, mas sim quando as máquinas e medicamentos ditavam. O arbítrio já não era mais seu. Seu corpo já estava inerte a frequentes invasões. Cateteres, exames, tubos, desconhecidos de branco falando a sua volta hora sobre sua pessoa, hora sobre superficialidades.
A medicina moderna a fizera sobreviver, mas ainda não conseguira fazê-la viver, até aquele dia...
Já não mais dependia de aparelhos, mas estava fraca e havia ainda uma cânula que desviava o ar diretamente para seus pulmões. Não lhe era possível falar. Era-lhe cabível somente expressar-se com os olhos. Seus olhos azuis queriam falar, carregavam uma esperança sorvida por tristeza. Havia dor. Veio então a notícia. Seria possível colocar uma cânula em sua traqueia que a permitiria falar e que lhe daria mais conforto. O médico prontamente realizou o procedimento de troca. Sua mãe, que a acompanhava incondicionalmente desde sempre, sofria às lagrimas do lado de fora e entoava baixinho: Filha, sua mãe esta aqui! Sua mãe esta aqui, filhinha!
A jovem menina mais uma vez mostrava seus olhos de angústia. Era desconfortável, quase não tinha forças para tossir. Foi quando, que uma vez a nova cânula colocada, com sua mãe ao lado, aquela menina mostrou seus olhos em lágrimas e estendeu seus braços trêmulos. Sua mãe prontamente perguntou angustiada:
“Filhinha, você esta com dor?”
Dissemos que ela poderia agora falar, afinal já havia tanto tempo que já se desacostumara. Eis que ela reúne todas suas forças e, em um sopro de ternura, responde:
“Mamãe, eu te amo!”
Sua mãe, emocionada, passou a mão em seus cabelos e respondeu: “A mamãe também te ama, filha.”
O silêncio agora se fazia de fala, trazia o som da perplexidade dos que estavam a sua volta.
Havia em toda aquela fragilidade uma força que permeava todo o sofrimento. A força de um amor incondicional. Um amor tão doce que foi capaz de tirar, num instante, toda a amargura daquele sofrer. Algo que palavras realmente não são capazes de descrever.
Foi naquele dia, que pude sentir o perfume de uma flor, que se fez florir em meio a um mundo de cimento tão duro e arbitrário. Foi naquele dia que minhas lágrimas homenagearam o perfume mais doce deste mundo sem fim. Foi o amor, ele sim, que iluminou a flor mais nobre daquele jardim.


Fernando Wolf

terça-feira, 22 de maio de 2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Que saudade tenho dos sapatos baixos
Da poesia de tornozelos finos e delicados
De cada detalhe feminino ali observado
Dos versos que davam forma ao livro de teu corpo
No saber do sentido de cada sílaba
Dos segredos teus em mim bem sedimentados
Num repouso por sob o peito do que havia de sagrado

Que saudade tenho das vestes franzinas
Do perceber o que já era antigo e desbotado
De lembrar sempre a ocasião de cada vestido
A iluminar vestígios de beijos arrancados
Daquilo sentido, o amor de detalhes guardados
Dentro de minhas caixas ficam ali jogados

Que saudade tenho de guardar tua história
De fazer de cada sopro perfumado de tua boca
Retalho costurado em minhas memórias
De poder ser testemunha de teus passos
Que bailavam em compassos doces
À melodia de um amor com toda sua cor




Fernando Wolf

domingo, 20 de maio de 2012

La Vie en Rose (Piaf, Um Hino ao Amor) filme




Trecho do filme La Vie en Rose (Piaf um hino ao amor) 2007

Marion Cotillard, atriz que interpreta Piaf, já se faz por valer o filme.


Non, Je Ne Regrette Rien



Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!

Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!

Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux!

Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...

Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!

Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!

segunda-feira, 14 de maio de 2012


Entre o caos que assola o que há de divino
Encontro no meio do caminho a passos ligeiros
O cheiro de toda beleza do lado de fora
Que agora vira minha escola, e mostra
Com a luz apertando meus olhos
O sol cobrindo o vento por sobre os arvoredos
E todo aquele branco que me cercava
Agora se esvai por entre o mirar do relevo
Ao longe, como será que as coisas vão por lá... (?)

A saudade míngua no peito, se vai
Por entre corredores com diversas portas
Por entre o pedir de todas as forças
Dos que ali estão sem nenhuma opção
De ao longe também poder sonhar


Fernando

domingo, 13 de maio de 2012

As Invasões Bárbaras - 2003



O premiado filme “As Invasões Bárbaras” traz a despedida, a morte, a razão de existir, o apego à vida, os sentimentos, as relações e seus enredos numa fase mais madura da vida. Apaixonante de verdade com cenas onde os sentimentos são trazidos à tona. Uma das cenas mais bonitas é a da imagem acima entre pai e filho, difícil segurar as lágrimas.
Se tiver um tempo a mais, assista também ao filme “O Declínio do Império Americano” gravado em 1986 com o mesmo elenco – mais jovem obviamente. Aqui os personagens vivem as tramas amorosas/sexuais e existenciais contemporâneas às suas respectivas idades e época.



Abaixo a música L'amitié - Françoise Hardy  - que faz parte da trilha sonora do filme:



A amizade


Muitos de meus amigos vieram das nuvens,
Com o sol e a chuva como bagagem.
Fizeram a estação da amizade sincera,
A mais bela das quatro estações da terra.

Têm a doçura das mais belas paisagens,
E a fidelidade dos pássaros migradores.
E em seu coração está gravada uma ternura infinita,
Mas, as vezes, uma tristeza aparece em seus olhos.

Então, vêm se aquecer comigo,
e você também virá.

Poderá retornar às nuvens,
E sorrir de novo a outros rostos,
Distribuir à sua volta um pouco da sua ternura,
Quando alguem quiser esconder sua tristeza.

Como não sabemos o que a vida nos dá,
Talvez eu não seja mais ninguém.
Se me resta um amigo que realmente me compreenda,
Me esquecerei das lágrimas e penas.

Então, talvez eu vá até você aquecer
Meu coração com sua chama.





Fernando Wolf