sábado, 26 de dezembro de 2015

Filipe Melo · Ana Cláudia // Spiegel im spiegel -Arvo Pärt




Bonitos






O que resta de mim se não estas vestes de pele
Nesta imensidão de solstícios que confundem aos dados
E estes se jogam em qualquer lugar
Que não em mim e sim, nos sujeitos vividos ali
De olhos castanhos distraídos
Que não percebem a vida passar
E  na imensidão do que resta no fim

Assim,

 num mero jogar
 num breve desdobrar


Se aliviam tormentas
     

num canto em consolo
ressoando sempre 


        Um sonhar





FW

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Debaixo d`água - Arnaldo Antunes interpretado por Maria Bethania






Por quantas vezes já sentei frente a ti
Em diferentes versões de mim
Com emoções mescladas a teu horizonte
Senti toda tua infinitude
Sufocar a minha pequenez
E tu te colocastes indiferente
Pois como eu,
Também já fostes diferente
Muitas vezes, vezes demais
Ora em tormentas,
Sem esmorecer, sem medo algum
Ora refletindo o sol
Em espelhos de água e luz

Faz-te imponente e dominas tuas formas
Que se vão junto a qualquer esperança
E nem sequer te comoves
Apenas te moves e te recolhes
Para depois novamente,
Em um movimento natural e corrente
Avançar por sobre tuas areias
Às razões de tuas luas

Quantos de nós já vistes sucumbir
Ou simplesmente encher aos olhos do teu salgado
Por simplesmente se perder no tempo
Que a ti também passa e passou
Mas, sempre mais forte continuas ali
Indiferente...
E mesmo assim, belo
Efêmero belo

Meu mar...

Guarda contigo tua história junto com a minha
Pois agora me vou
E um dia também te vais
Mas quero que saibas que comigo ainda te levo
E antes de qualquer morte,
Com certa sorte, espero rever-te
Talvez num verão de janeiro
Em areias diferentes das minhas e tuas
De coração em paz
Ali,
O teu horizonte
Sem mais




Até breve



FW 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

domingo, 27 de setembro de 2015



Se teu corpo dança fora do meu
Os passos meus tornam-se teus
E os passos teus  os compassos meus

Em linhas insinuadas num chão de pétalas
Dançamos desencontros e depois
Nada mais que saudades
Daquilo que se tornou um dia,
Sagrado,
   Numa suave melodia

Dentro de salões tão claros
Os cristais dos lustres vibram  
Em cadência... sonetos de luz
Regidos em notas passadas por este amor

O teu sorriso é a entrega duma flor
Que faz de qualquer valsa
O saber da alma
A calma de qualquer dor

São, enfim
Os teus pés delicados
Que levam os meus sapatos
Arrastando-se em laços,
No trás e frente,

1, 2, 3...





FW

domingo, 13 de setembro de 2015

De todos os campos
Dos vales que guardam seus ventos
E alisam meus cabelos
É de lá que vens tu de alma plena
A refletir o sol dos poemas
O amor, teu irrestrito senso de ternura
Fazem toda a conjuntura de linhas e ruas
Na mais sublime obra de aconchego
Do que emana dos teus relevos
A perfeição erudita do que cultivas como vida
Agora se torna a saliva
O sal e a dor
Constrói o caminho do meu singelo mundo
Meu mundo de amor


FW

segunda-feira, 20 de julho de 2015





No outono húngaro de dois mil e oito, era Debrecen cidade dos galhos secos,  da grama ainda verde,  do vento suave e gélido. Ao lado, uma igreja gótica de pedras escuras e lá ao fundo, uma voz de tons convictos e retilíneos a cantar: Padam... padam... padam... Aproximo–me  e vejo uma senhora de cabelos curtos com tons avermelhados a desprender sua bela voz nesta melódica canção. Em passos distraídos, vinha-me a curiosidade ociosa: que música era aquela que continuava a ressoar entre minhas orelhas?

Aproximadamente um ano mais tarde, numa praia, num agradável verão de Santa Catarina, vieram aos ouvidos sequenciais deleites musicais - escolhidos ao acaso -  de tons femininos e firmes tal qual daquela mulher dos cabelos de fogo. Em uma destas músicas, novamente entoavam palavras que já guardavam sua intimidade: Padam, padam padam... reconhecidamente era Piaf.

Era dezenove de Julho de dois mil e quinze, sete anos após aquele outono. Uma manhã  de cama, lençóis e cobertas, de tato da pele recém acordada, de cabelos sobre o teu rosto, do chuveiro que nos despertava e da cama que nos chamava de volta. Músicas para esta manhã eram preguiçosamente selecionadas e, por gentileza de caminhos, vieram novamente aos ouvidos: Padam... padam... padam....
Teus olhos musicais logo mostraram-se arregalados e disse-me soprosamente ao ouvido: uma valsa!!! Foi neste dia que aquela mesma música era redescoberta em valsa. Foi neste mesmo dia, que se ousou a dançá-la numa revolução de almofadas. Numa nudeza de embaraços, num lapso de deixar-se feliz, dançamos deliciosamente ao ritmo de padam... padam... padam... um dois três... um dois três... o tempo se fez Piaf e a música se fez embalar... padam dois três... padam dois três... padam... padam...  padam... e em fim dançamos a mais bela estação daquela música.



FW


Padam... Padam...

Cet air qui m'obsède jour et nuit
Cet air n'est pas né d'aujourd'hui
Il vient d'aussi loin que je viens
Traîné par cent mille musiciens
Un jour cet air me rendra folle
Cent fois j'ai voulu dire pourquoi
Mais il m'a coupé la parole
Il parle toujours avant moi
Et sa voix couvre ma voix

Padam...padam...padam...
Il arrive en courant derrière moi
Padam...padam...padam...
Il me fait le coup du souviens-toi
Padam...padam...padam...

C'est un air qui me montre du doigt
Et je traîne après moi comme un drôle d'erreur
Cet air qui sait tout par coeur

Il dit: "Rappelle-toi tes amours
Rappelle-toi puisque c'est ton tour
'y a pas d'raison pour qu'tu n'pleures pas
Avec tes souvenirs sur les bras..."

Et moi je revois ceux qui restent
Mes vingt ans font battre tambour
Je vois s'entrebattre des gestes
Toute la comédie des amours
Sur cet air qui va toujours

Padam...padam...padam...
Des "je t'aime" de quatorze-juillet
Padam...padam...padam...
Des "toujours" qu'on achète au rabais
Padam...padam...padam...
Des "veux-tu" en voilà par paquets
Et tout ça pour tomber juste au coin d'la rue
Sur l'air qui m'a reconnue

Écoutez le chahut qu'il me fait

Comme si tout mon passé défilait

Faut garder du chagrin pour après
J'en ai tout un solfège sur cet air qui bat
Qui bat comme un coeur de bois

domingo, 12 de julho de 2015

Amay




O que sentir desta mulher que oferece com as mãos um punhado fresco de manjericão
E imortaliza em terras imersas do seu amor,
Num breve ciclo de sálvias
Doces memórias contornadas por flores roxas de alecrim


O que pensar desta mulher que guardo em mim
Que perfuma os caminhos por onde passam os seus pés delicados
Em passos embalados por ventos que atravessam os campos
E que trazem-na, em cunita, aos braços meus


O que amar de ti senão os verbos dos teus olhos de relva serena
De onde vertem águas puras com poder duma cura
De qualquer flor que se faça triste no meu jardim

A esta mulher nada mais do que o meu amor,
Que ofereço em mudas de flor, terra e capim
Para que possamos cultivar os mais simples sonhos
Neste horizonte sem fim.



FW