quarta-feira, 20 de abril de 2011

Amor pequeno





Gente que vai, gente que pouco viu
Desfalecem na angina de nossas almas
Que choram por almas pequeninas
Levadas muito cedo, cedo de mais...

Tinham nas mãos o pulsar da vida
Eram futuros pintores geniais de suas histórias
Futuros interrompidos, risadas subtraídas
Amores não vividos... Vento leva frágil...

O sangue machuca, ferve em lágrimas
Dói mesmo em olhos muito machucados
O horror não nos amortizou ainda
Um mero consolo ao inconsolável

Eram tão amadas, tão vivas, tão belas!
Interromperam o amor sem aviso
E dos que ficaram no vendaval
Ainda ali o amor com os de mesma dor

Algo em mim diz que foi ato sem amor
Foi brisa fria sem sentimento
Um coração que não batia direito
Ainda não vejo raiva, só dor...

Indigerível senão fosse o tempo
Talvez um sempre, um eterno entalar na goela
As chagas ainda estão abertas...
O vento ora sopra ora queima a pele

Meu Deus... Eram tão pequeninas de vida...
Flutuam agora em brisas macias
E lembranças de amor sopram seus rostos
Vão com Deus pequeninos amados

Dedicado às vítimas da escola do Realengo
Fernando Wolf

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Quem me dera escrever-te cartas de agosto
A sensatez já pousaria por sobre as letras
E meu coração já não teria mais tinta
Não haveria borrões nem letras tremidas
As palavras seriam suaves e redondas


Quem dera escrever-te palavras de agosto
O sabor já seria mais doce e palatável
A madeira já estaria seca para queimar
A passarada migrante já estaria na Patagônia
E os jardins seriam de grama verde sem flores

O tempo seria cinza e ameno
Os campos esperariam nova safra de trigo
A terra guarneceria seus minerais
A água esperaria o molhar de outras plantas
E o amor presente se faria inerte...

Janeiro, minha cara, é ainda temporal
Tudo é tão quente que dói na pele
A água efervescente jorra nos vales
As lástimas perduram nas nascentes
E as laranjas caem podres de desilusão

Mas minha cara! Agosto ainda virá!
Repousaremos cada um sob seu campo
E beberemos vinhos de carvalho velho
Mirando as estrelas que por outras noites
Alumiaram as nossas mais belas lembranças

Por agora, só me resta esperar o mês de agosto...


Fernando Wolf

Todas as formas ainda ressurgem em meu peito
O amor que a seu despeito vem falar comigo
Chama o coração para vir te ver e faz crer
Que um dia você vai ligar dizendo, ainda te amo

Miro os prédios que ao sol se mostram insólitos
Que sentido tem? Sem meu amor quase imploro
Se de saudades vou ao parque caminhar
Ainda espero sem pressa meu coração parar...


(que lógica tem?)

Sempre sozinho porque quero ser mais algum
Um ser desalmado que já não mais acuado
Se faz triste pelas ruas a sonhar
O dia em que poderá novamente, tua boca beijar

Fernando Wolf  - ai ventrículo!

sábado, 2 de abril de 2011

Era um sonho

Estávamos em uma roda entre grandes amigos e colegas de faculdade. Grandes camaradas que me marcaram com certeza, destes que vem para possuir as mais vivazes lembranças de nossas mentes. Estavam todos em uma sala num ambiente muito animado, uma sala simples e pequena. Era uma reunião de reencontro ou despedida não sei bem, mas sentia os dois. Ansiava pelas surpresas que meu mestre guardara. Não era só meu mestre, era de todos. O estimávamos como um grande amigo. Ele iniciou fazendo pequenas homenagens a fatos ocorridos durante a nossa convivência. Mostrava fotos de meu amigo e suas extravagâncias e todos riam. Assim, meu mestre se fazia muito amoroso sempre fazendo questão que cada pessoa ali soubesse o quanto significava na sua vida e o quanto ele tinha amor por cada um.
Mas algo não me parecia certo ali. Meu nome não vinha, e tinha a angústia de querer ganhar aquele amor, ao mesmo tempo sentindo que não havia plantado tanto amor quanto as outras pessoas. Estava irritado. Até que chegou a minha vez de falar. Nisso me interrompe um ser. Era uma mulher numa cama, era quem eu amava. Não tinha face conhecida, mas sentia que a amava. Ela estava pálida, caquética algo como um paciente terminal. Ela estava ao lado de outros que tinham amor por ela e eles como eu, sabiam que ela iria morrer em breve. Eu, mesmo assim, diante de todos, consumido pelo ódio de não ter recebido aquele amor desejado, a xinguei. Era como uma vingança por todas as mágoas que ficaram entre nós. Falava mal daquele ser frágil e pálido consumido pela sua doença. Ela não chorou, ela somente se absteve. Os que estavam em volta a confortaram.
Foi então que meu mestre deu um presente de algum significado e a abraçou, falou quanto ela era especial e significava a todos. Houve uma mudança nos meus sentimentos. Eu vi a mim mesmo e não gostei. Eu vi quão tolo é o que guarda mágoas e se priva de amar. Nisto, despreocupo-me se ganharia uma homenagem ou não, solicito permissão dos que estavam envolta dela e me aproximo. Ela me olhou com ternura e se levantou com dificuldade. Eu peguei em sua mão, nos abraçamos e nos despedimos em lágrimas.
Acordei... Meu peito abrigava algo ainda estranho. Pensei o quanto aquilo estava carregado de significado. Duas grandes lições logo me vieram...
O maior presente que podemos ter é a capacidade de amar aos outros e poder demonstrar isso. Só chegamos a este ponto amando a nós mesmos. Do contrário muito pouco temos a dar e acabamos por permanecer num estado egoísta. Era meu mestre me ensinando, me dando um grande presente. Se buscava um sentido em minha vida, um propósito, este me pareceu o mais autêntico... A paz se restabeleceu em meu peito.
A segunda lição foi de que amores nascem e morrem em nós. Alguns podemos carregar juntos sempre até a nossa partida deste mundo. Senti que nossos amores podem vir junto a mágoas sejam elas coerentes ou não. Infelizes seremos se deixarmos o ódio dominar as nossas mais doces lembranças. Triste daquele que não consegue ver a efemeridade da vida e perdoar a si e a quem amou pelas mágoas deixadas. O amor e somente o amor pode trazer um significado digno a nossa passagem e aos mais diferentes tipos de vida que escolhermos neste mundo. Se não fizermos do amor nosso presente, quando olharmos para trás nos restará muito pouco. Dê amor e ganhe vida.
Hoje eu tive um sonho que mudou a minha vida de alguma forma.