domingo, 28 de dezembro de 2014

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Pele

Agora entendo quando falavas de pele
Quando pela razão, era tudo fútil
Sentia um manipulador de um corpo que não habitava
Como rochas que se ajeitavam por entre vales estagnados
A vida não mais me chamava
E inerte sucumbia ao tédio
Foram inúmeras tentativas das mais psicanalíticas análises
E por fim, fadigado nos pensares demasiados
Sucumbi deliciosamente a mais doce das catarses:
Como falava, ah sim...!
A pele...
Por que não acreditei antes!
Ela sim a conexão mais forte
O fogo que se transpira é sentido ao toque doutro que arde
E como você que está ali,
O outro também o está por inteiro
Numa total perda do controle de dois corpos
Era o toque da tua pele com a minha
A chave mais sincera dum coração
Era tua a minha verdadeira paixão
Era nossa pele rebelião


FW

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Meu amigo sinaleiro





Todos os dias passam na movimentada rua da minha casa sonetos de petróleo
Por vezes sou contemplado pelo sinaleiro lá de baixo na esquina
Que me presenteia com um repentino silêncio do vermelho de carros parados
É ali que me emociono com o barulho das cigarras
E das folhas que batem umas nas outras orquestradas pelo vento

Fica aqui uma grata homenagem ao meu amigo sinaleiro
Poeta do meu silêncio



FW

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O velho e o tempo




Um homem depois de certa monta já não descansa por descansar
Ele já sofreu do medo de sua própria história um dia não se firmar
Mas depois de toda glória, toda história, ficou algo para pensar
Se foi daquele ardor todo o verdadeiro fruto a se plantar

Olhando ali para outros tempos aquele homem consegui rever
Que seus mais insanos desejos só o levaram a padecer
Fora o herói de sua firma, o mais materialista daquele alvorecer
Mas quando se debruçava por sua a vida, aquilo já não queria mais ser

A suas pernas fracas agora em águas mansas passeavam num sorrir
A sua gentileza era posta como algo de real a se fazer sentir
O homem tornou-se belo e suas rugas já não o deixavam sequer mentir
Era agora seu único castelo aquele elo sobre o tempo e seu despir

O homem sentia falta da inocência das crianças ao seu redor
Sabia que o futuro era deles e o seu já não lhe pedia o seu melhor
O mundo cada vez se despedia com mais um sol no horizonte a se pôr
O velho agora chorava o seu tempo e clamava: vivam com todo o amor!




FW

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

Manoel de Barros

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Heróis de coração









Os mais sinceros gritos  que vêm do ser
Vêm da morte nos olhos de quem não quer ver morrer
Estes levam à boca de quem padece
A cura de suas próprias vidas
E ali deixam o significado de todo ser

Num coração de outro que insiste em bater




FW

Aos inúmeros anônimos que dedicam suas vidas pelo bem das outras

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Humildade






Como bem o sabem, não somos todos virtudes, longe disto. Por isso vemos dificuldades de nos expor, de mostrar os defeitos como que nos tornássemos frágeis, diferente dos que vemos nas linhas "facebookianas". Como Fernando Pessoa ironizava no “Poema em linha reta”:

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo
....

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…”

Nos assumimos em papéis sociais, nos vestimos de símbolos que tomamos por verdades. Nesta rede social da vida, naturalmente as diferenças entram em evidência. Quando alguém foge do que nos é palpável, do que nos é "mastigável" tendemos a desmerecer. Quantas pessoas interessantíssimas deixamos de conhecer, de aprender (!) por ignorância?

É a humildade uma forma de humanidade que nos permite a conexão com nós mesmos e com o que nos cerca. Quando aceitamos que nos outros, como em nós, também habita aquilo que é falho, finito ou feio, surge uma acalentadora empatia que nos despe da prepotência e nos aproxima de um ser ou situação que pode mostrar então, suas outras faces.
É como quando chegamos numa festa de um país de hábitos diferentes. Aqueles que chegam com o espírito aventureiro, de um verdadeiro "antropólogo", logo se integram à festa, aprendem a dança local e se esbaldam no divertimento e conhecimento das nuances de uma cultura nova. Mas há aqueles que não conseguem desvencilhar-se dos seus hábitos de pensamento. Frente ao desconhecido, dão um passo atrás e voltam ao hotel reclamando do barulho da festa. Ficam na sua zona de conforto. Assim é numa empresa, numa relação nova...
Pois a humildade pode se fazer uma ferramenta, não só de passividade ou de aceitação daquilo que não nos parece normal, mas constitui-se uma ferramenta de busca, de movimento e de quebra de barreiras - “dos desníveis” – da nossa ignorância . Já dizia Miguel de Cervantes:

“A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja.”

Para enxergar o que há de virtuoso além do nosso nariz, é preciso descer do pedestal... Pois que no aventuremos na busca pelo que há a nossa volta, com este nobre instrumento da personalidade, num exercício diário, nesta festa que nos foi dada... antes que enfim, se apaguem todas as luzes.

Namastê!

FW

domingo, 31 de agosto de 2014

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

As coisas vão assim




No que me cerca a alma,
Do que se faz meu e em volta a tudo isso,
Àquilo que joga com meus instintos
Deste mundo arredio,
Que me cuspiu  ao chão
Que já me fez pensar em perdão,
Ou em simples resignação

Em goles ásperos deste resignar sem fim
Tomo a multidão como parte de mim
E no fim quero pensar
No que passou por meu desgosto
Que a este sim, eu pude deixar
O que já houve de melhor em mim
A paz dum continuar sem fim

A vida toma conta
Leva o tolo com o consolo
De que sujeito já foi um dia
Aos trejeitos dos desencontros
Mas que por fim, no fim, quem diria
Dizia: “era tudo um grande engano

Estavas aqui e agora já tens que partir”




F W