domingo, 29 de julho de 2012

O vendedor de flores



Por de trás de cada ser existe um segredo, uma luta, um amor, uma chance perdida, uma vida construída. Dia-a-dia percebemos, encontro a encontro, a superficialidade destes seres que nos cercam. Julgamos – montados em nossas próprias personalidades – o que vimos, o que nos é transferido, o que nos é captado em segundos por nossos limitados sentidos. Estimamos inconscientemente que o julgamento é de fato uma verdade. Passamos então a conviver por verdades criadas.
Há um porém que todos já devem ter vivenciado um dia. As verdades mudam...
Vejam aquele vendedor de flores, vendendo suas rosas e cravos para aqueles casais sentados ali naquele café da esquina. Um senhor franzino, de terno batido, de sapato desbotado, vestindo seus óculos de armação firme e lentes pesadas. Alguns o veem e compram o seu produto por pena. Tem pena de um pobre velho que, apesar de avançada idade, deveria estar trabalhando de bar em bar na esperança de ir para casa com algumas moedas a mais, para cobrir suas necessidades.
Mas faço um convite, olhe para os olhos deste velho. Há um mundo que vos aguarda. Olhe com atenção por de trás destes óculos. Veja os olhos marejados de emoção pelo simples fato de ver aquela jovem moça receber de seu amante, com carinho, a flor vendida segundos antes. Pois para quem olhar mais fundo, verá que ali em seu Benjamin habita uma alma saudosa. Sim, ele já vivera um grande amor, seu único amor, para o qual há dez anos levava flores todos os domingos à tarde, recostando-as por sobre a lápide de sua falecida esposa. Era ela a única pessoa a quem fora capaz de amar com todas as forças de sua existência. E agora vendo ali, aquela jovem moça enrubescer-se com uma rosa, revivia com seu coração saudoso, as boas lembranças do seu doce romance, de tempos atrás.
Agora que já conhecem seu Benjamin um pouco mais, saibam que ele não estava ali por um acaso. Poderia vender outras coisas como já o fizera em épocas passadas. Já fora um habilidoso comerciante e se aposentara com certo conforto financeiro e social. Mas houve, naquela altura da vida, um chamado que optou por escutar. Era sua nova vocação. Era por isso que estava ali, noite após noite, vendendo seu encanto em forma de flores. Era a forma que encontrara para reviver o seu romance. Afinal, era ele, como perceberam, um romântico.
Agora venham, voltemos à superfície da situação. Não há de forma alguma como ver a imensidão por de trás de cada olhar. O mundo nos engole, a rotina nos sufoca. Mas não custa, vez ou outra, parar e prestar atenção, ao fantástico universo que habita em cada um. Convide-se por vezes, ao desfrute de explorar universos paralelos, sem olhar em demasia ao céu. Pois olhe ali adiante, por de trás de outros óculos... Verás as verdades se transformarem, a cada estrela nova que mirares.


Fernando Wolf