sábado, 30 de junho de 2012

Amanhecer




Quando o dia acorda leve
Os pensamentos são suaves como manteiga
Os pássaros cantam em sinfonias afinadas
As nuvens desenham os sonhos bons
E na geladeira, recordações de estradas passadas

Quando os campos florescem
Já não há mais lugar para a noite
Os córregos vertem de pedras
As montanhas acalentam os vales
E o silêncio abraça seus moradores

Quando o peito acorda leve
As palavras são doces portugueses
A boca cheira a mel do campo
O café é de panquecas e frutas
E o levantar é um cúmplice preguiçoso

Quando o sol aquece a face
O ar entra e sai tranquilo
A chuva dá lugar ao orvalho das folhas
A música chama para um passeio
E a paz calmamente vai tocando a alma





Fernando Wolf

domingo, 24 de junho de 2012

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Saudade do Caipira



A saudade é uma tristeza que vem do peito, vem do fundo, lá dos fundos dum quintal... vem com cheiro de churrasco de domingo onde os primos brincavam felizes pelo capinzal. A saudade é uma devoção entre as almas, que vem ao corpo provar que, sem o amor de acalento, passamos por um frio de doer. Frio tão gélido que faz o peito tremer sem igual. Basta então soprar por sobre o vidro molhado de garoa para desenhar as nuvens que costumavam encobrir os sóis de outros verões. Eram nestes dias que vinham as suaves brisas por sobre as faces dos que conosco não mais perto estão ou quiçá mesmo, já viajaram para outro mundão.
As lágrimas, quando de saudades, sequer avisam. São safadas, desbocadas, imprevisíveis! Basta uma ligação e, sem mão, elas se fazem enfileirar ladeira a baixo pelas bochechas despencando uma a uma por sobre o telefone. Por fim, esparramam-se por sobre o capim que costumávamos pisar, lá, lembra, em meio àquele quintal.
Ah e os cheiros! Grandes âncoras que atracam o peito nas mais profundas águas de nossas lembranças. Fazem-nos mergulhar em meio aos pastéis caseiros da vovó fritos em banha ou mesmo em perfumes de amores deixados lá nos fundos dum cafundó.
Quem sente saudade sabe bem o que é lonjura. Palavra besta que atina os corações só por desejarem aquela “perteza” gostosa das rodas de conversa na varanda. Ou aquele abraço gostoso como prova do enlaço das mais virtuosas emoções. Mas vem o longe que costuma envolver o coração com tamanha força que faz paralisar qualquer esperança de um reencontro bom. Sorte a Deus Pai que a isto não se deve mais de uns minutos. Logo aquele sofrido coração volta a bater no compasso do dia-a-dia, da nova vida que será sentida, da mesma forma, nos dias que se virão. "Êh trem bão..."

Fernando wolf

domingo, 17 de junho de 2012

Ressuscitar





Quando os olhos encontrarem-se fechados
Que se abra o peito à paz que há em ti

Quando o sentido de tudo se esvai
Procure pelo sabor da nobreza de um pai

Se só vês sombras projetadas em iguais
Busca em ti a luz que também há em outros a mais

Se o que rege o corpo teima em não escutar
Eu imploro, abra olhos, chore e contemple o amar

Quando achares que não há mais forças para tentar
Escute ao longe, guerreiros ocultos em ti virão ajudar

E se achares que não mais mereces ao menos tentar
Ajude a outro homem, que possa por isso também passar

Há sempre um tempo para mudar, escute o coração
E encontrarás a mais nobre razão para um novo ressuscitar





Fernando Wolf

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O tempo da ausência




Outrora a mente embebia-se por sobre diálogos
Que pareciam tão reais em seus sentidos tão vivos
Bastava um segundo e lá mirava a mente a sair do corpo
E tudo voltava a ser uma vitrine de cabeças falantes
Que atuavam em nuances que a vida lhes traziam
Nada mais parecia eterno e, muito menos, importante
Nem a mais fugaz das distâncias entre o certo e o errado
Tudo isso se desfazia como castelos de areia com o mar
Que contavam histórias de tempos atrás, nunca mais...
Tempos que o passado engoliu e o presente nem viu
E tudo se desmanchava em areia por entre minhas mãos
Liquefazia-se na realidade de meu próprio mundo
Um universo criado por algo em mim que só Deus
Poderia saber o que se passava pelos cantos dali
Era tudo suspenso e leve...  tudo levava ao nada..

E então...

Vinham os minutos fracionados que me levavam ao chão,
Pois o presente imposto fazia de seu gosto provado
O tempo novamente era sentido num pulsar no peito
A cada batida, mais um segundo vertia de mim
Numa sangria desatada de minha existência
Era essa a incumbência de quem sentia a vida fluir
Sentir aos poucos a alma do corpo esvair 
Dando adeus aos corvos que ainda insistem por ali


Fernando Wolf

Img: "Wheatfield with Crows" de Van Gogh