domingo, 31 de julho de 2011

Corpos da alma


Os olhos são o corpo da alma. Não consigo vê-los como meras janelas. Pois ali é que a alma toma forma e é possível ver um algo próprio da constituição de uma pessoa. É notável o peso que tem um olhar, ele denota tanta coisa. Parece que já sabemos a maturidade que embebe um olhar, ou a leviandade que afligem outros – sem mesmo ter entrado em contato com o ser que os carregam!
Obviamente, isto se torna mais claro aos atentos e, porque não, aos de maior sensibilidade. Mas, mesmo aos desprovidos de muitas vivências, o contato dos olhos já é carregado de sentidos. Pois veja um fato que ocorrera recentemente. Uma criança e seu pai passeavam por uma galeria.  Lá havia um palhaço de óculos escuros fazendo estardalhaços para chamar a atenção para a loja que o contratara. O palhaço se direcionara ao pai e recebera um comprimento juntamente a um largo sorriso. No entanto, ao direcionar-se à criança, havia ali uma resistência. A criança logo se afastou com medo. Receio que fora quebrado instintivamente pelo palhaço ao retirar os seus óculos. A resposta da criança fora instantânea. Cumprimentara o palhaço com o mesmo sorriso que acompanhava o pai.
Vejam aí as proporções que podem levar os olhos. Os estudiosos da linguagem do corpo já dominam há tempos as mensagens subliminares dos olhos. Técnicos em interrogatórios estudam com afinco as maneira de mentir escondidas em olhares. Mas não falo desta mensagem que os olhos podem transpor. Falo do além. Chamemos de “impressão geral”.
Falo daquela impressão primeira que temos ao ver alguém. Parece que mesmo em contextos impróprios, por exemplo, onde vejamos uma pessoa cometendo erros na vida, ainda mantenhamos aquela sensação de que aquilo não seja da natureza própria daquela pessoa, pois justamente os olhos nos dizem coisas a mais. Pois aí que pacientemente esperamos, damos o tempo para que as qualidades vistas nos corpos daqueles olhos se façam presentes.
Nunca esqueço a avaliação de um professor com seus alunos. Ele dizia que para ser um bom aluno era preciso haver um “brilho nos olhos”. Obviamente ele caiu em descrédito por todos os seus alunos, inclusive por mim que acreditava que simplesmente o "estudar" era o diferencial em questão. Mas hoje penso diferente. Ele está completamente certo. O que, senão a forma dos olhos a desejar algo, a desejar o conhecimento, a mostrar a gana por aprender, poderia se fazer mais elucidativa sobre seus alunos? Pois os olhos são sim belos parâmetros de avaliação.
Sabemos o quanto alguém guarda de mágoas, sabemos o quanto aquela pessoa cresceu com suas intempéries, sabemos quem ainda sofre, sabemos quem sonha, sabemos quem definha. Os olhos tomam formas, nos dão respostas, são nossos espelhos porque não... quem aqui nunca projetou suas angústias em olhos alheios?
Os olhos são nossos corpos, são os corpos da alma que assumem suas formas, suas cores, seus amores! É desta mística forma do corpo que a alma o fez o seu próprio. Sejamos conhecedores dos demais vitrais a transparecer suas auras refletidas, nossos corpos desnudos, belos como o são em sua essência. Sejamos  estudiosos mais atentos da anatomia dos olhos. Há um universo único a ser descoberto em cada olhar.


Fernando Wolf 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Aloe Blacc - You Make Me Smile

Kids!!!


Hoje, caminhando pelo parque num dia ensolarado, após vários dias de chuva, via-se um mundaréu de pessoas felizes contemplando os primeiros raios de sol. Sentado num banco, vejo dois meninos com suas respectivas “janelas” na boca. Levavam seus carrinhos coloridos e caminhões por sobre os brinquedos. Até que, quando viram o término da "pista" daquela gangorra, avistaram com dúvida: "como iriam conduzir seus carrinhos até o próximo escorregador?" - tendo em vista que o chão era o "mar" de sua brincadeira. Um logo lembrou o outro com euforia:
- Não lembra que podemos também voar!
Saíram os dois a correr sem pestanejar com um sorriso bonito e falhado no rosto.
Pensei:
- É bem verdade... vocês realmente podem voar!!
Não podemos?

Fernando Wolf

domingo, 24 de julho de 2011

Família


A fechadura é a porta de entrada da minha casa. Lá eu coloco minha chave, minha segurança, meu amor, minha esperança, não importa o mais nem o menos que eu esteja. Sempre vai haver uma fechadura na porta. No girar da chave, a chegada de alguém anuncia com barulho cada um – e para os mais atentos, cada um tem o seu barulho próprio. Tem-se proclamada então a comunhão de seres, que fizeram do amor lei que rege os sentimentos. E não há legislação escrita. De nada vale senão as lembranças impressas na memória de cada um. Têm-se aí, infindáveis constituições, medidas provisórias e sansões.
Mesmo que por vezes a raiva se coloque nos quartos, na sala ou mesmo na cozinha, ali nunca, mas nunca mesmo, a indiferença senta-se a mesa. Impossível! O amor grita, urge, chora, pede perdão. Mas nunca se faz ausente. Pois ali, naquela fechadura, poucos têm a chave... Mas os que os têm, fazem-se presentes, mesmo quando por vezes já se foram sonhar em outros mundos.
Família tem quatro paredes, chão e teto. É ela habitável a todos. E eu tenho várias chaves. E abro a geladeira em todas! Obrigado meu Deus pelas paredes que tanto amo.

Fernando Wolf

quinta-feira, 21 de julho de 2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O fim do dia antevê a noite
O inicio da noite, a lua
O fim da noite, o quarto
O seu lembrar, o meu querer
O seu corpo, meus braços
O seu peito, contra o meu
O amor, só seu

Um mundo sem ações desinteressadas – Homero Santiago » cpfl cultura

Um mundo sem ações desinteressadas – Homero Santiago » cpfl cultura


Só é necessário dois cafés expressos e interesse, claro, antes de iniciar o vídeo. Do contrário... DO NOT ENTER!

domingo, 10 de julho de 2011


Num canto escuro de uma musica triste

Encontra-se o âmago insuflado da dor

Que não se faz hostil, num simples sentir

Só lembra o tolo que acreditava que só

Um dia encontraria o abdicar do coração



Lembras que na livre superfície descoberta

Da tez macia de uma pétala feminina

Há o paraíso recostado dos homens vis

A descobrir o cheiro desnudo da mulher

Nas caricias tenras de sua pelve a ir



A vir...



Pois o ardor de amantes emaranhados

A se despir em lampejos de ternura

Sábios iluminam recíprocas finitudes

E o amor floresce em rosas perfumadas

A esconder lírios brancos por sobre o peito



Não haveria outras formas de ressoar

A verdade singular da alma, o amor

De cantar por pretéritos perfeitos

Por estradas cruzadas a se espraiar

Senão pelos corações dos amantes



A amar...



Fernando Wolf

sexta-feira, 8 de julho de 2011

quinta-feira, 7 de julho de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Book of love - Shall we dance


Hakim não chores mais
Sei que estás velho e cansado
Que agora lamenta as agruras
Que já lhe fizeram do couro
Material duro e resistente

Kakim agora a vida é outra
Tem nas mãos a experiência
De anos e encontros a se perder
De cada qual a alma se fez
Em cada pulsar o seu forte

Hakim do que reclamas?
Se fostes desde tua infância
O desejo de curar a dor
A única significância clara
Que poderias dar a vida

Hakim não vês o que é teu?
Não são os bens remanescentes
Não são as horas de repouso
Não são suas vestes nobres
São as almas que curastes

Hakim, Hakim... és agora despido
De ambições e desejos pueris
Mas sabe que sempre quando
Uma alma carente precisar
Sabe que em ti há de contar

Hakim agora vá encontrar
Em tua sabedoria o conforto
Que só um Hakim retêm
Depois de tantos encontros
No ïntimo de seus semelhantes

Hakim saibas que é abençoado
Tens um dom encontrado
Um chamado a se dizer divino
Que poucos o exerceram
Outros, menos ainda, o amaram

Hakim se da tua vida querias
A tua vocação como alegria
Não deixes o espírito desfalecer
Lembre-se que se fosses morrer
Hoje e sempre, Hakim o seria

Fernando Wolf

domingo, 3 de julho de 2011


Estavam todos reunidos em comunhão de amor pela vida e pelos que ali se encontravam. A mesa redonda era guarnecida por caras marcadas pelo tempo. Eram velhos agora, eram velhos desde que os conheci, só agora, um pouco mais. Mas as limitações cresceram, as perdas se acumularam. O carregar de seus ossos pesados passou de trivial a um atual desafio diário. E alguns dos que já amaram haviam deixado para trás as lembranças e se foram deixando-os aqui neste mundo a viver os recordares.
Histórias eram contadas com vivacidade qual a de um ontem recente não fossem os vários anos que já separavam o atual do passado. O diálogo fluía e acolchoava o coração de ternura ao ver os olhos que por vezes se umedeciam de recordações. Uma história puxava a outra que se mostravam engraçadas, as risadas eram fáceis e o humor ameno. No entanto, e mantendo o encanto, intercalavam com mostras de pesares de épocas outras, mais duras e escuras. Mas havia mesmo nestas melancolias, uma amenidade que só o tempo fora capaz de dar. O negro era mostrado mais brando e o branco se fazia brilhante. Ainda não entendo o porquê deste fenômeno, mas me é sim agradável o saber de sua existência, não?
Comecei a pensar que um dia lá, frente aos novos detentores da juventude, poderia eu estar. Estaríamos numa mesa (hipotética) similar, o dia claro, o ladrar dos cães no jardim, o estalar da lenha na lareira e o frio a gelar os pés. Lá estaria a minha descendência, minha família, a carregar meu sangue, reunida em volta da mesa da sala. Lá estaria eu proferindo minhas lembranças.  Teriam paciência ao me ouvir? Ou me faria prolixo? No mais, estaria eu impreterivelmente a recordar. É uma necessidade intrínseca e visceral do humano. Mas estaria eu relembrando com a ternura que meus queridos avós agora o fazem? Pensei: “aí, no exemplo dos mais velhos de minha família, há um verdadeiro estímulo: de fazer do tempo que dispomos, um transcorrer de bons momentos com aquilo que nos é dado. Pois, é desta vida de agora que virão as lembranças que já então velhos e fadigados, iremos contar com carinho aos que amamos.”

Por enquanto fica a lembrança grata de meus avós, que trazem de seus ancestrais a essência que junto com seus viveres, norteiam os meus rumares.

Fernando Wolf
Aos meus avós Sônia, Nilza, Lothar e ao querido vô Willy (um dia ainda nos encontraremos, muitas histórias novas a contar...)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Se estás triste, ajude alguém.