Ah eu tive um amor
Destes que os filmes mostram com calor
Mas como de repente, meio incoerente
Te vi partir, sem ao menos me pedir
Você deslizou entre meus dedos
E de mãos fechadas ajoelhei-me ao chão
Desde que você se foi
A saudade sem piedade desafiou os meus brios
Mas veja bem, não sou mulher de ficar de joelhos
Vendo o futuro esmagar meus desejos
Pois tive que dar chance a quem me queria amor
Mesmo que fosse só para abrandar a essa dor
Sim, inevitável aprender a amar a outro homem
Para esconder os retratos seus estampados em meus olhos
Estava feliz enfim, estava com quem eu escolhi a dedo
Deu-me outros lugares, respirei a outros ares
E naquele tempo em que só o queria era esquecer
Os ventos insistiam em soprar o seu perfume
Disseram-me que estava louco,
Bebendo vinho e destruindo caminhos
Meu bem, algo aconteceu,
Tive a certeza, você não servia mais para ser meu
Eu tinha beijos e abraços apertados
Tinha o amor de meu amado
Mas algo ali, de novo insistia
Sem permissão nenhuma em minha porta bateu, e doeu...
Era você, apaixonado, com os olhos encantados
Por outra que não eu
Soube que era alguém que tomava o seu ar
Tinha sua morada no peito que um dia eu tanto quis estar
Tive vontade de fechar de vez todas as portas
Te chamar de calhorda, esquecer que um dia sequer tive dor
Ah meu bem, ainda tinha a esperança, lá, jogada entre
lembranças
Dum novo reencontrar, ali no destino, nas curvas de outros
caminhos
De nada se fez, mais uma vez, senão a morbidez
Dum romance que se apagava de vez
Hoje entendo... ah se não fosse o tempo um grande senhor
Que rege as desavenças e reconstrói o amor
Como é fácil esquecer dos dias de chuva e rancor
Como é delicioso lembrar o que nos fez amor
Se um dia o destino resolver brincar
E nossos olhos reencontrar, saiba que a ti sempre guardei
o amor
Pois ainda tenho comigo a dor, esta coisa aqui do peito
Que se deita nas paredes, a suspirar em melancolia os dias
de calor
Meu bem, ainda sei que guarda a chave da cozinha
E se o tempo lhe fizer lembrar, que te dê coragem de entrar
E sem bater, como quem sempre foi da casa,
Me abrace com cheiro de pão da manhã
Fernando Wolf