domingo, 22 de abril de 2012

Nos braços do incerto


Desde o florir d`alma neste mundo, até o despir da carne, caminhamos por sobre pedras e pétalas. Quando ficamos felizes, vêm o voltar às lagrimas duma tristeza que já fazia a sua falta. E quando o cinza frio já cansa a espinha, nos erguemos em mais uma primavera a mirar os campos férteis a se perder de vista.
 Vivemos os ciclos, revivemos os erros, nos vangloriamos dos acertos. O privilégio da maturidade vem trazendo mais e mais a calma de padrões achados em meio ao caos. Buscamos incansavelmente as respostas, que esmigalham o peito, dia após dia, noite após noite. Tudo fluindo com a força do tempo, muito a parte de nossos desejos e rezas.
A jornada do viver constrói-se num perguntar constante, sem nunca uma resposta. Pois, se a encontrássemos, talvez, estaria lá a morte. Quem sabe, se encontrássemos a Deus, ou mesmo o nada, já não haveria mais lá o viver. Estaria ali o fim, ou o começo de algo que não esta vida mundana.
A certeza ou a plenitude eterna, portanto, ainda não caberiam a este viver que conhecemos. Não nesta vida, não neste corpo de carne e sentimentos. Não nesta mente despreparada que beija a terra e que mira o céu sob sua suspeita. Quem se atreve a continuar vivendo, não está apto a encontrar uma resposta estanque. Estamos sim aptos a desfrutar a angústia das interrogações, da beleza do incerto, da falta do conforto apaziguado pelas ilusões - uns menos e outros mais. E, mesmo assim, isso de forma alguma deve ser tratado de forma  desesperançosa, pelo contrário. Justamente é na falta das certezas e das verdades cravadas em pedras, onde encontramos o esplendor que é o viver, onde brota a fonte da esperança e da fé pela existência das respostas. Pois não é no seu fim, mas na sua jornada que o coração ainda pulsa.
Porquanto, é ali, no andar tortuoso de pernas juvenis, onde temos a oportunidade de aprender a andar. Somente ali, naquele olhar da criança que não entende a dor de um despedir, que aprendemos a suportar a perda. É somente ali, que a vida põe-se a ensinar a quem estiver atento para aprender. 



Fernando Wolf




A vida é a chama de uma diminuta vela e a morte, o seu sopro.




Fernando Wolf

Mar Adentro - Filme




O premiado filme relata a história de Ramón Sampedro -  interpretado de forma única por Javier Bardem -  um marinheiro que ficou tetraplégico na sua juventude ao bater em um banco de areia no mar. Ele passa seus próximos 30 anos recebendo ajuda de seus familiares sob total dependência. Sua luta no final da vida passa a ser a de sua própria morte. Há a discussão jurídica e moral da época sobre este caso que ficou famoso pelo mundo. Um filme emocionante, um tema polêmico - eutanásia, morte com dignidade. Vale cada minuto.


Fernando Wolf

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Biscaya



Ao meu papa!! 

domingo, 8 de abril de 2012

Smooth music...


Gare du Nord - Marvin and Miles

sábado, 7 de abril de 2012

Quem ama não perdoa


Quem ama não perdoa. Quão agressiva esta frase quando jogada aos ouvidos pela primeira vez. Era vinda  de alguém que respeitava, um de meus mestres. O perdoar sempre pareceu-me tão afável. Ainda o é, afinal. Estas quatro palavras ecoavam no peito como que sem pedir licença, “quem ama não perdoa”. Era um desafio, tinha de assimilar aquilo e achar o seu sentido. Foi como se impusessem um enigma. A busca de sua solução consumiria o tempo e os sentidos por várias e repedidas vezes após ser colocada em meus pensamentos.
Havia uma sensação contraditória e angustiante. Eram os meus valores também colocados à prova. Como que podia aquele "perdoar" que é sinônimo do bem, que traz a paz, cura as guerras e se faz elevado, como que o "perdoar" pode não fazer parte das ações de quem ama?
Era então mais fácil desacreditar e dar um tempo daquilo tudo. Continuaria eu com os pensamentos tão usuais ao ser.
Mas, a vida flui em mudanças e movimento. Negar talvez não bastasse mais após certa monta. E, quando já achava tarde, uma luz, como que de algum lugar, dum nada, dum silêncio, veio iluminar todas as angústias. Pois, o amor, este sim, mostrou sua face. Era agora de forma clara, que via o amor como um sentimento mais elevado. Mais do que paixões, mais do que a carne que movimenta nossos corpos. O amor era e é sim mais elevado que o perdão, apesar de toda sua carga de nobreza.
Quem consegue amar de forma pura e plena, eleva-se por sobre o perdão. Por isso, quando sentimos amor verdadeiro, talvez não precisemos perdoar. Quem consegue amar assim, simplesmente ama ao todo, ao que há de perfeito e imperfeito num ser, num estado, numa ação, seja o que for.
Ah sim, o amar... poucos o conseguem de forma tão plena, poucos são os que chegam lá – já falava este  mesmo mestre. Para tanto, para senti-lo, é preciso libertar-se de muitos véus... E é dura a jornada até o amor mais puro, livres de todos os apegos, livres de tudo o que corrompe o ser.
Como então chegar lá? Como amar plenamente? Por enquanto, valho-me da máxima: É no presente o começo de qualquer feito, seja ele grande ou mísero. Pois se quiseres amar de forma límpida e pura, não é jogando-se em lamaçais que irás consegui-lo. Se quiseres amar para não mais precisar do perdoar, é preciso jogar-se nos rios de vertentes nobres e mutáveis do seu presente. Será ali, dia após dia, que conseguirás aprender a amar a correnteza que leva o que não morre em ti e que flui por entre os tempos.

Fernando Wolf

Para para paradise

Florianópolis 2012

Pablo Neruda - Tu eras também uma pequena folha

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.


Pablo Neruda