quarta-feira, 18 de julho de 2012

Doce epifania



Quem já não quis mudar-se para uma ilha, longe de tudo e todos os que incitam ao caos. Bem verdade que cada um sonha com a sua ilha, a sua própria, do seu jeito. Cada um tem um paraíso guardado dentro de si. Quem dera eu então, viver em uma ilha, que não seria necessariamente cercada de mar, mas por campos dourados, laminados por ventos vindos do Sul.
O ranger do relógio traria o dia, uma vez, e a noite outra. Seria assim o tempo contado, mas também fracionado, pelas vezes do leite ordenhado dos ventres das vacas em seus cercados. Da varanda larga colocar-me-ia numa rede num fim de tarde para rir da meninada a caçar ovos por entre poleiros, espantando com medo, as galinhas chocadeiras.  
Lá, o dia-a-dia jamais cansaria. A música suave de estradas passadas caminharia por entre os corredores, chamando todos à sala, frente à lareira, para ali ficar no calor do fogo, ouvindo os estalos da lenha.
Esta ilha de modo algum receberia sinal de mundo outro. Lá o único jornal, seria o da vizinha, que daria bom dia com notícias do povoado de lá. Assassinatos, quadrilhas e corrupção não passariam mais na televisão. Cortaríamos assim a escola de um ladrão.
A tranquilidade se daria por gestos simplórios. Mostraria a paz por entre aqueles, que já tiraram do tempo, demais amarguras, para se importar com as frescuras, dos dias a mais.
E para quem ali quisesse viver, teria de aprender a ouvir os canarinhos com atenção, pois assim, dum continente de poucos ouvidos, conseguiria se abrir mão. Nesta doce epifania, se poderia a paz sentir. Seria ali num repousar das costas no gramado, que se escutaria, com o sol recobrindo a face, o que a vida realmente tem a dizer. Aprenderíamos assim um novo fazer do pão, de nosso próprio trigo plantado, sem mais prestar atenção, às receitas criadas no caos do mundo de lá.
Ilha assim, levo em meu coração. Coloco lá quem eu quero, coleciono as pessoas que amo, envoltas nos sentimentos mais nobres que já fui capaz de sentir. E por vezes, permito-me para lá fugir...

Fernando Wolf

Jorge Drexler "El museo de las distancias rotas"




Un silencio que llego de lejos
Fue a ocupar mi corazón vacío
De la pena que se llevó flotando el río.

Cada cual a merced de su corriente
Y a merced de la gravedad, el velo
De pronto el tiempo quedó latente
Tu mano en mi pelo, tu mano en mi pelo.

Y un silencio con tus mismos ojos
Fue a ocupar mi corazón vacío
De la pena que se llevó flotando el río,
De la pena que se llevó flotando el río.


Jorge Drexler