domingo, 25 de março de 2012

Ninho das estações

William Henry Hunt Primroses and Bird’s Nest.

Andei por novos povos
Vi nos olhos outras vidas
E pela televisão os brancos ouvindo música
E ali no chão o capim crescendo entre as pedras
Respirei o ar de não estar ali e, novamente,
O tudo e o todo ficaram suspensos e estagnados
Via no mundo uma repetição dum estado humano
Seus sorrisos nos rostos e os pensamentos ao vento    
Os choros e abraços, os cantos e os ouvidos
Vi tanto em tão pouco...
Eram ciclos que pulsavam em qualquer canto
E quando menos esperava, aquilo já me bastava
Para ver que não adiantava fugir
Aqui ou ali, tudo um dia vai também ruir

Pois agonizo em saber se há de valer
Um dia o sofrer por querer estar ali
Ali em qualquer lugar
Onde deixarei meu corpo a repousar
Como se boiasse num rio de correntes calmas
Sem medo, deixando a água mansa me levar
Sem mais nadar, nem mergulhar...

Talvez um dia recoste meus sapatos
Frente a uma lareira num dia frio
Para deixar enfim o conforto do cobertor
Apaziguar a alma em um ninho de flor
Construído com as pétalas de todos os jardins
Que um dia já secaram e em outros floresceram
Em primaveras e outonos de tempos atrás
Feito de ventos, do ir e vir dos galhos,
De caminhos do nascer e do morrer,
Da potência das sementes e de árvores em flor

Será ali onde um dia eu hei de sentar
Para ver a lua brincar com o sol
Confundindo-nos em dias e noites,
Em ódios e amores, em brigas e afetos
Ali sim, colocar-me-ei de expectador estático
Vendo como um lúcido lunático
O alvorecer beijar a lua e brindar
Vez após vez, ao nascer de nova luz
Que logo cedo a cada manhã
Vêm a alma iluminar






Fernando Wolf