sábado, 18 de fevereiro de 2017

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Sabor colorido


Para enfeitar este sitio com mais um pé de poesia





Mel...eu quero mel
Quero mel de toda flor
Da rosa, rosa, rosa amarela encarnada
Branca como cravo, lírio e jasmim
Eu quero mel pra mim

Mel...você quer mel?
Quero mel de toda flor
Da margarida sempre viva, viva
Gira, gira, girassol
Se te dou mel pode pintar perigo
E logo aqui, no meu quintal
Cuidado, pode pintar formiga, viu?

Mel... Eu quero mel
Quero mel de toda flor
Colorido sabor...do mel de toda flor
Antes que um passarinho aventureiro

Que beija um beijo, doce sabor
Sabor colorido

Mel... Eu quero mel
Quero mel de toda flor
Da assussena, violeta, flor de lís

Flor de lótus, flor de cactos
Flor do pé de buriti
Dália, papoula, crisântemo
Sonho maneiro, sereno, fulô do mandacaru

Fulô do marmeleiro, fulô de catingueira
Fulô de laranjeira, fulô de jatobá
Das imburanas, baraúnas, pé de cana
Xique-xique, mel da cana, cana do canavial
Vem me dar um mel que eu quero me lambuzar

Mel... Eu quero mel
Quero mel de toda flor
Antes que um passarinho aventureiro

Que beija um beijo, doce sabor

Sabor colorido


Geraldo de Azevedo

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O ventre do homem




Nenhuma gota de ventre
Nem mesmo do leite que jorram das tetas
O ventre que carregas
Onde guardas o amor
Da rosa que te pariu
Agora esqueças,
És um homem deste mundo
E aqui teu falo é teu punhal
Se não cortares as gargantas
É tua cabeça que será exposta
Nas praças públicas de teus semelhantes
Que, como a ti...
Vivem a sonhar calados com o dia que voltarão ao ventre
Ao aconchego de todo homem só
Eles e tu, doutrinados ao “cala-te!”
Num desconsolo da mais pura falta de seus todos,
Choram as lágrimas solitárias
De não poderem ser
Os ventres que ali lhe habitam
Em meio as suas entranhas irrequietas

O som vinha como trovões
Deflagrados de uma energia estrondosa
Impondo-se aos ouvidos a dentro:

“Enquanto somos sós
Soldados sem exército, sem companheiros
Num fronte de valas tristes
Com os pés frios e paralíticos
Que ali...
No reduto de toda nostalgia duma liberdade pueril
Ninguém mais ouse mostrar o seu ventre!”

 Bradavam os de peito inflado
De olhos marejados de toda dor


Eis o medo que o abocanha
O medo da cegueira
Que paralisa as pálpebras
Torna tudo escuro e denso
Sem cinema, sem artista
Nem luz

                        Ah inglórios soldados sem causa!
                      Em franco aborto vital de suas almas
           Ajoelham-se perante sua Invídia e clamam:

“Que morram todos os heróis!
Destemidos vulneráveis
De nudez clara como a água de um pássaro
Que matam o homem, com olhos serenos
Dia após miserável dia,
Plantam um humano dentro de si
A todos estes, só restam os nossos punhos
Que socam o vento vão
Um punhal sujo do sangue
Que recrudescem as chagas
Daquela mesma criança
Do parque, da gangorra
Pipa, boneca, pisam a grama
E hoje pisam o chão"


Eram quaisquer uns, tolos
Tomavam conta dos bares
Dos campos de futebol, das barbearias
Junto ao cair de seus pêlos,
A raiva de seus olhos frente ao espelho
Até que o último dos homens
Tornou-se a si
E sangrou seu ventre:



“Que morram todos...
Que morramos juntos!
Os homens e os punhos cerrados
Para que só reste
No fim de cada ocaso
O ventre que acolheu um dia
E a mão que libertou
O humano preso no estômago
Deixemos  este ser todo 
Viver a plena arte de si!



Fernando Wolf

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