domingo, 12 de julho de 2009

Superproteção dos filhos

Introdução

Este texto foi proposto diante de uma situação desarmônica entre uma mãe e seu filho no nosso serviço. Uma relação clara de superproteção que tornou evidente a necessidade de intervenção.
Busquei textos para contextualizar os princípios que podem melhor reger o desenvolvimento da psique de uma criança envolta em um mundo de novos dogmas e tabus de uma sociedade cada vez mais globalizada.

Meu contexto

Já faz um bom tempo, mais precisamente há 18 anos, mas lembro como se fosse hoje. Claro, isso se explica porque a memória está ligada com sentimentos, e esta lembrança que vou lhes colocar é plena de emoções e vivacidade.
Tinha por volta de seis anos de idade, já freqüentava o jardim de infância. Até então sempre brincava aos olhos de meus familiares e de outros cuidadores “terceirizados” por assim dizer.
Era um dia de sol, em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, de imigrantes alemães. Sociedade fechada cheia de padrões rígidos, porém um encanto de cidade. Era o primeiro dia que eu iria para a escola por minhas próprias pernas, sem ninguém me conduzindo. Meu coração parecia saltar pela boca. Estava apreensivo. Tentava esconder minha ansiedade para que minha mãe tivesse confiança em mim. Como podem perceber já sabia alguma coisa sobre transferência e contratransferência, na prática é claro.
A escola ficava a três quadras de minha casa. Minha mãe era professora de educação física de lá. Ela me levou até a esquina. Deu-me orientações sobre os perigos e precauções de atravessar a rua e de falar com estranhos. Ouvia aquilo pela vigésima vez eu acho. Foi diante de olhares apreensivos, caminhando quadra após quadra, que tive pela primeira vez uma sensação maravilhosa de liberdade conquistada.
Vejam nesta história, que havia dois personagens. A minha mãe, que superou sua angústia sob a confiança na esfera biopsicosocial que me encontrava imerso. Ela via naquilo um salto para meu desenvolvimento. Já eu, uma criança que mobilizou recursos dentro de sua psique para assumir riscos por um ganho, ou seja, uma liberdade a mais.
Esta relação de conquistar de um lado e ceder de outro passou a ser um padrão bem estabelecido com meus pais. Claro que demorei a entender, ou melhor, nunca entendia. Era sempre um fardo para mim. Hoje eu tenho a noção de que era senão um fardo maior para meus pais. Todo este jogo de conquista de confiança não é uma tarefa fácil.

Contexto atual

A relação entre pais e filhos de hoje mantém certos padrões mais antigos é claro, passamos aos filhos muito do que nos foi passado de valores pelos nossos pais. Contudo, o contexto psicosocial mudou.
Temos a globalização, um acesso imenso a informações que processamos todos os dias. Vemos violência, maníacos, barbáries com nossas crianças. O mundo se tornou mais amplo, as desconfianças entre seres-humanos são uma constante para a maioria. Flutuamos em diferentes opiniões e comportamentos, corremos um risco maior de perder nossa identidade, nossos valores. O que é certo cá, não é certo lá e vice-versa. Como não se angustiar no que vamos passar aos nossos filhos?
Neste contexto, como se houvesse uma reação diante dos fatos que nos cercam, vemos um padrão crescente de superproteção dos pais.
Poucas crianças ainda freqüentam os parques sozinhas. Elas são “escoltadas” até a escola. Elas têm horários para brincar, esportes e cursos agendados. Suas vidas mais parecem um “curriculum” que uma infância comum. Resumindo, nós fazemos que o mundo “grande e mau” seja tão seguro quanto um lar e transformamos nossas crianças em “meninos-bolhas”. Isto claro traz conseqüências.
Crianças que viveram aprisionadas dentro da “super e bem intencionada proteção dos pais”, no momento que ganham a liberdade muitas vezes de um jeito súbito, já num momento mais tardio em suas vidas, tem uma tendência de assumirem risco que as façam sentirem-se mais velhas, tomando as rédeas de suas vidas. Contudo, esse comportamento pode se resumir a drogas, pegar o carro escondido dos pais etc. acarretando perigo à vida desses jovens.


Como orientar os pais

Temos que orientar os pais de quando e quanto risco suas crianças podem assumir. O que é um desafio de fato.
Para pré-escolares e crianças mais novas eles podem estabelecer a segurança dentro dos limites de seu campo de visão; quanto a ir à rua orientar quanto a estranhos e segurança da estrada; mandar seu filho de cinco anos com seu triciclo até a esquina (enquanto você o vê de uma distância); ou achar uma árvore segura para ser filho escalar. É claro que os pais devem minimizar o perigo real. A melhor regra é perguntar a você mesmo o que você fazia quando criança, e deixar-se guiar por isto.
Os pais devem procurar por oportunidades de estimular as paixões das crianças; vão ser através destas que as crianças vão achar a sua melodia.
Para não sobrecarregar demais os pais, pode utilizar-se de terceiros para oferecer novas conquistar às crianças. Como ir ao shopping com a turma da escola ou dormir na casa de amigos por exemplo. Outra coisa é estabelecer treinamentos que tornem a criança mais familiar com certos ambientes e situações: levar algumas vezes a criança ao colégio para familiarizá-la com o caminho e alertá-la dos possíveis perigos.
Os desejos de liberdade de uma criança menos ativa podem ser encontrados em caminhos emocionais. Pode-se sugerir aos pais deixarem a criança escolher a tinta de seu próprio quarto, deixando sua filha escolher seu próprio corte “desastroso” de cabelo etc. Talvez gastar tempo com uma criança de oito anos de idade mostrando como usar um canivete com segurança – então dar a ele seu próprio. Adolescentes podem tomar seus riscos também, dando a responsabilidade sobre seus irmãos mais novos, fazer a lista de mercado ou iniciar um pequeno negócio.
Quando necessário, chamar a atenção dos pais que mesmo as crianças mais bem criadas às vezes assumem riscos com tatuagens, piercings e cabelos estranhos. É importante não entrar em pânico. É normal para adolescentes experimentarem com independência e tomarem a responsabilidade por si próprios. Melhor é manter-se curioso sobre suas motivações e discutir as conseqüências. Das crianças que se rebelam, aquelas que têm uma relação saudável e aberta com os pais e que escutam e adultos que os aconselham, tem em geral um desfecho bom.

Quatro coisas que crianças precisam ouvir

Para a criança assumir riscos positivos e tomar responsabilidades elas devem ouvir quatro mensagens afirmativas de adultos. É o que afirma Michael Ungar no seu livro Too Safe for Their Own Good:
1. Você pertence. Risco e responsabilidade dão à criança o senso que ele se encaixa em algum lugar
2. Você é confiável. Quando outros confiam em uma criança, ela vai confiar em si própria.
3. Você é responsável. Crianças apreciam a oportunidade de serem vistas como “filhos-crescidos/adultos”.
4. Você é capaz. Se adultos identificam habilidades especiais em crianças, eles vão se sentir capazes de tomar boas decisões para si próprios.


Bibliografia

http://www.canadianliving.com/family/kids/overprotected_kids_how_to_let_kids_take_risks.php

Fernando Wolf

Sopro

Ó ser visceral, miserável humano
Porque pensas?
Não tens certeza de sua sobrevivência
Teu futuro, tu és um sopro
De nada adianta,
Ou achas que seus devaneios irão te salvar
Salvarão a humanidade?
Porque insistes em pensar
Seja um ignorante! Eu te desafio!
Deixe sua inquietude para lá,
Tudo se resume a angustia no final.
Droga!
Não consigo, sou fraco
Minha essência me convoca, me sufoca.
Meu general exige minha continência
Inconsciente sádico
O meu prazer se encontra nas profundezas de meu eu.
Sou um sopro
Persisto sem motivo
Maldita gostosa vontade de mergulhar.

Fernando Wolf