Um jovem tinha agora
a morte como parte de seu cotidiano. Era sua nova profissão como “cerimonialista
fúnebre”. Tinha de enfrentá-la face a face. No entanto, isto lhe trazia
conflitos internos e externos – tinha o descrédito da sociedade e de sua
família que achava aquilo um trabalho indigno. E esta bela cena arranja-se em
cima disto:
Em uma ponte baixa, no interior do Japão, o jovem observava
pensativo. Eram salmões que nadavam corredeira acima por entre as pedras do
riacho. Um ancião aproximou-se e perguntou se ele estava admirando os peixes.
Quando, por entre os que remavam bravamente aos seus destinos, boiavam alguns
desfalecidos seguindo o fluxo do riacho. Era natural ao ciclo do salmão. O
jovem, em sua perplexidade reflexiva, indagou ao velho “qual o sentido de tanto
esforço se a morte era o destino daqueles peixes?”
O ancião já dando as costas ao jovem, voltando calmamente ao
seu caminho, respondeu: “Talvez eles queiram voltar para onde nasceram...”
Uma cena simples e muito rica em contemplação. Pois temos
muito de salmões... não? De algum lugar viemos e a algum lugar iremos – ou
voltaremos. Existe conexão entre a origem e o fim? Talvez seja esta angústia
existencial que motive a procura de nossa origem, de saber a nossa história, de
saber quem foram nossos antepassados, o que fizeram, quais os seus feitos, o
que nos trouxe até aqui. Quanto mais nos aproximamos da velhice – da morte
porque não? – maior a tendência desta busca. Eis que entender o passado, poderia
nos dar fundamentos de imaginar um futuro, de poder palpar algo teoricamente
impalpável. Afinal a busca ao passado, poderia se constituir de uma busca por
um conforto existencial a nos conectar com a vida e com o mundo.
A cena descrita acima vem do filme ganhador do Oscar de
melhor filme estrangeiro de 2009 “A Partida” – Okuribito/Departures. Foi
gravado em 2008, dirigido por Yojiro Takita e ambientou-se no Japão. Tem várias
cenas estranhas, carregado de significações. Um bom filme.
Fernando Wolf