domingo, 8 de julho de 2012

Os Salmões

 Um jovem tinha agora a morte como parte de seu cotidiano. Era sua nova profissão como “cerimonialista fúnebre”. Tinha de enfrentá-la face a face. No entanto, isto lhe trazia conflitos internos e externos – tinha o descrédito da sociedade e de sua família que achava aquilo um trabalho indigno. E esta bela cena arranja-se em cima disto:
Em uma ponte baixa, no interior do Japão, o jovem observava pensativo. Eram salmões que nadavam corredeira acima por entre as pedras do riacho. Um ancião aproximou-se e perguntou se ele estava admirando os peixes. Quando, por entre os que remavam bravamente aos seus destinos, boiavam alguns desfalecidos seguindo o fluxo do riacho. Era natural ao ciclo do salmão. O jovem, em sua perplexidade reflexiva, indagou ao velho “qual o sentido de tanto esforço se a morte era o destino daqueles peixes?”
O ancião já dando as costas ao jovem, voltando calmamente ao seu caminho, respondeu: “Talvez eles queiram voltar para onde nasceram...”
Uma cena simples e muito rica em contemplação. Pois temos muito de salmões... não? De algum lugar viemos e a algum lugar iremos – ou voltaremos. Existe conexão entre a origem e o fim? Talvez seja esta angústia existencial que motive a procura de nossa origem, de saber a nossa história, de saber quem foram nossos antepassados, o que fizeram, quais os seus feitos, o que nos trouxe até aqui. Quanto mais nos aproximamos da velhice – da morte porque não? – maior a tendência desta busca. Eis que entender o passado, poderia nos dar fundamentos de imaginar um futuro, de poder palpar algo teoricamente impalpável. Afinal a busca ao passado, poderia se constituir de uma busca por um conforto existencial a nos conectar com a vida e com o mundo.
A cena descrita acima vem do filme ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009 “A Partida” – Okuribito/Departures. Foi gravado em 2008, dirigido por Yojiro Takita e ambientou-se no Japão. Tem várias cenas estranhas, carregado de significações. Um bom filme.





Fernando Wolf


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