A saudade é uma tristeza que vem do peito, vem do fundo, lá
dos fundos dum quintal... vem com cheiro de churrasco de domingo onde os primos
brincavam felizes pelo capinzal. A saudade é uma devoção entre as almas, que
vem ao corpo provar que, sem o amor de acalento, passamos por um frio de doer.
Frio tão gélido que faz o peito tremer sem igual. Basta então soprar por sobre
o vidro molhado de garoa para desenhar as nuvens que costumavam encobrir os
sóis de outros verões. Eram nestes dias que vinham as suaves brisas por sobre
as faces dos que conosco não mais perto estão ou quiçá mesmo, já viajaram para
outro mundão.
As lágrimas, quando de saudades, sequer avisam. São safadas,
desbocadas, imprevisíveis! Basta uma ligação e, sem mão, elas se fazem
enfileirar ladeira a baixo pelas bochechas despencando uma a uma por sobre o
telefone. Por fim, esparramam-se por sobre o capim que costumávamos pisar, lá,
lembra, em meio àquele quintal.
Ah e os cheiros! Grandes âncoras que atracam o peito nas
mais profundas águas de nossas lembranças. Fazem-nos mergulhar em meio aos
pastéis caseiros da vovó fritos em banha ou mesmo em perfumes de amores
deixados lá nos fundos dum cafundó.
Quem sente saudade sabe bem o que é lonjura. Palavra besta
que atina os corações só por desejarem aquela “perteza” gostosa das rodas de
conversa na varanda. Ou aquele abraço gostoso como prova do enlaço das mais
virtuosas emoções. Mas vem o longe que costuma envolver o coração com tamanha
força que faz paralisar qualquer esperança de um reencontro bom. Sorte a Deus
Pai que a isto não se deve mais de uns minutos. Logo aquele sofrido coração
volta a bater no compasso do dia-a-dia, da nova vida que será sentida, da mesma
forma, nos dias que se virão. "Êh trem bão..."
Fernando wolf