Quem ama não perdoa. Quão agressiva esta frase quando jogada
aos ouvidos pela primeira vez. Era vinda de alguém que respeitava, um de
meus mestres. O perdoar sempre pareceu-me tão afável. Ainda o é,
afinal. Estas quatro palavras ecoavam no peito como que sem pedir licença, “quem
ama não perdoa”. Era um desafio, tinha de assimilar aquilo e achar o seu
sentido. Foi como se impusessem um enigma. A busca de sua solução consumiria o
tempo e os sentidos por várias e repedidas vezes após ser colocada em meus pensamentos.
Havia uma sensação contraditória e angustiante. Eram os meus
valores também colocados à prova. Como que podia aquele "perdoar" que é sinônimo do bem, que traz a paz, cura as guerras e se faz elevado, como que o "perdoar" pode não fazer parte das ações de quem ama?
Era então mais fácil desacreditar e dar um tempo daquilo tudo. Continuaria eu com os pensamentos tão usuais ao ser.
Mas, a vida flui em mudanças e movimento. Negar talvez não
bastasse mais após certa monta. E, quando já achava tarde, uma luz, como que de
algum lugar, dum nada, dum silêncio, veio iluminar todas as angústias. Pois, o amor,
este sim, mostrou sua face. Era agora de forma clara, que via o amor como um sentimento mais elevado. Mais do que paixões, mais do que a carne que movimenta
nossos corpos. O amor era e é sim mais elevado que o perdão, apesar de toda sua carga de nobreza.
Quem consegue amar de forma pura e plena, eleva-se por sobre
o perdão. Por isso, quando sentimos amor verdadeiro, talvez não precisemos perdoar. Quem
consegue amar assim, simplesmente ama ao todo, ao que há de perfeito e
imperfeito num ser, num estado, numa ação, seja o que for.
Ah sim, o amar... poucos o conseguem de forma tão plena, poucos
são os que chegam lá – já falava este mesmo mestre. Para tanto, para senti-lo,
é preciso libertar-se de muitos véus... E é dura a jornada até o amor mais puro,
livres de todos os apegos, livres de tudo o que corrompe o ser.
Como então chegar lá? Como amar plenamente? Por enquanto, valho-me da
máxima: É no presente o começo de qualquer feito, seja ele grande ou mísero. Pois se
quiseres amar de forma límpida e pura, não é jogando-se em lamaçais que irás consegui-lo.
Se quiseres amar para não mais precisar do perdoar, é preciso jogar-se nos rios
de vertentes nobres e mutáveis do seu presente. Será ali, dia após dia, que
conseguirás aprender a amar a correnteza que leva o que não morre em ti e que flui por entre os tempos.
Fernando Wolf
Quanndo li o título, ao mesmo tempo que despertou-me a curiosidade de entender o porquê, senti medo. Mas após ler o texto, faz sentido as suas palavras. E quão maravilhoso seria o mundo se todas as pessoas que o compõem, amassem plenamente a si em primeiro lugar, e como consequência ao seu próximo!
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