sábado, 7 de abril de 2012

Quem ama não perdoa


Quem ama não perdoa. Quão agressiva esta frase quando jogada aos ouvidos pela primeira vez. Era vinda  de alguém que respeitava, um de meus mestres. O perdoar sempre pareceu-me tão afável. Ainda o é, afinal. Estas quatro palavras ecoavam no peito como que sem pedir licença, “quem ama não perdoa”. Era um desafio, tinha de assimilar aquilo e achar o seu sentido. Foi como se impusessem um enigma. A busca de sua solução consumiria o tempo e os sentidos por várias e repedidas vezes após ser colocada em meus pensamentos.
Havia uma sensação contraditória e angustiante. Eram os meus valores também colocados à prova. Como que podia aquele "perdoar" que é sinônimo do bem, que traz a paz, cura as guerras e se faz elevado, como que o "perdoar" pode não fazer parte das ações de quem ama?
Era então mais fácil desacreditar e dar um tempo daquilo tudo. Continuaria eu com os pensamentos tão usuais ao ser.
Mas, a vida flui em mudanças e movimento. Negar talvez não bastasse mais após certa monta. E, quando já achava tarde, uma luz, como que de algum lugar, dum nada, dum silêncio, veio iluminar todas as angústias. Pois, o amor, este sim, mostrou sua face. Era agora de forma clara, que via o amor como um sentimento mais elevado. Mais do que paixões, mais do que a carne que movimenta nossos corpos. O amor era e é sim mais elevado que o perdão, apesar de toda sua carga de nobreza.
Quem consegue amar de forma pura e plena, eleva-se por sobre o perdão. Por isso, quando sentimos amor verdadeiro, talvez não precisemos perdoar. Quem consegue amar assim, simplesmente ama ao todo, ao que há de perfeito e imperfeito num ser, num estado, numa ação, seja o que for.
Ah sim, o amar... poucos o conseguem de forma tão plena, poucos são os que chegam lá – já falava este  mesmo mestre. Para tanto, para senti-lo, é preciso libertar-se de muitos véus... E é dura a jornada até o amor mais puro, livres de todos os apegos, livres de tudo o que corrompe o ser.
Como então chegar lá? Como amar plenamente? Por enquanto, valho-me da máxima: É no presente o começo de qualquer feito, seja ele grande ou mísero. Pois se quiseres amar de forma límpida e pura, não é jogando-se em lamaçais que irás consegui-lo. Se quiseres amar para não mais precisar do perdoar, é preciso jogar-se nos rios de vertentes nobres e mutáveis do seu presente. Será ali, dia após dia, que conseguirás aprender a amar a correnteza que leva o que não morre em ti e que flui por entre os tempos.

Fernando Wolf

Um comentário:

  1. Vanessa Schäfer Costa12 de maio de 2012 às 14:37

    Quanndo li o título, ao mesmo tempo que despertou-me a curiosidade de entender o porquê, senti medo. Mas após ler o texto, faz sentido as suas palavras. E quão maravilhoso seria o mundo se todas as pessoas que o compõem, amassem plenamente a si em primeiro lugar, e como consequência ao seu próximo!

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