domingo, 3 de julho de 2011


Estavam todos reunidos em comunhão de amor pela vida e pelos que ali se encontravam. A mesa redonda era guarnecida por caras marcadas pelo tempo. Eram velhos agora, eram velhos desde que os conheci, só agora, um pouco mais. Mas as limitações cresceram, as perdas se acumularam. O carregar de seus ossos pesados passou de trivial a um atual desafio diário. E alguns dos que já amaram haviam deixado para trás as lembranças e se foram deixando-os aqui neste mundo a viver os recordares.
Histórias eram contadas com vivacidade qual a de um ontem recente não fossem os vários anos que já separavam o atual do passado. O diálogo fluía e acolchoava o coração de ternura ao ver os olhos que por vezes se umedeciam de recordações. Uma história puxava a outra que se mostravam engraçadas, as risadas eram fáceis e o humor ameno. No entanto, e mantendo o encanto, intercalavam com mostras de pesares de épocas outras, mais duras e escuras. Mas havia mesmo nestas melancolias, uma amenidade que só o tempo fora capaz de dar. O negro era mostrado mais brando e o branco se fazia brilhante. Ainda não entendo o porquê deste fenômeno, mas me é sim agradável o saber de sua existência, não?
Comecei a pensar que um dia lá, frente aos novos detentores da juventude, poderia eu estar. Estaríamos numa mesa (hipotética) similar, o dia claro, o ladrar dos cães no jardim, o estalar da lenha na lareira e o frio a gelar os pés. Lá estaria a minha descendência, minha família, a carregar meu sangue, reunida em volta da mesa da sala. Lá estaria eu proferindo minhas lembranças.  Teriam paciência ao me ouvir? Ou me faria prolixo? No mais, estaria eu impreterivelmente a recordar. É uma necessidade intrínseca e visceral do humano. Mas estaria eu relembrando com a ternura que meus queridos avós agora o fazem? Pensei: “aí, no exemplo dos mais velhos de minha família, há um verdadeiro estímulo: de fazer do tempo que dispomos, um transcorrer de bons momentos com aquilo que nos é dado. Pois, é desta vida de agora que virão as lembranças que já então velhos e fadigados, iremos contar com carinho aos que amamos.”

Por enquanto fica a lembrança grata de meus avós, que trazem de seus ancestrais a essência que junto com seus viveres, norteiam os meus rumares.

Fernando Wolf
Aos meus avós Sônia, Nilza, Lothar e ao querido vô Willy (um dia ainda nos encontraremos, muitas histórias novas a contar...)

Um comentário:

  1. Me senti em casa lendo esse seu texto. Eu não tenho mais avós porque sou temporã e todos morreram tão logo eu nasci, porém meus tios e pai tem a idade que eles teriam agora, e é assim que transcorrem os encontros de família, recheados de histórias que já foram contadas dezenas de vezes sendo recontadas e emocionando.
    Que bonito isso.

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