sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Humildade






Como bem o sabem, não somos todos virtudes, longe disto. Por isso vemos dificuldades de nos expor, de mostrar os defeitos como que nos tornássemos frágeis, diferente dos que vemos nas linhas "facebookianas". Como Fernando Pessoa ironizava no “Poema em linha reta”:

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo
....

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…”

Nos assumimos em papéis sociais, nos vestimos de símbolos que tomamos por verdades. Nesta rede social da vida, naturalmente as diferenças entram em evidência. Quando alguém foge do que nos é palpável, do que nos é "mastigável" tendemos a desmerecer. Quantas pessoas interessantíssimas deixamos de conhecer, de aprender (!) por ignorância?

É a humildade uma forma de humanidade que nos permite a conexão com nós mesmos e com o que nos cerca. Quando aceitamos que nos outros, como em nós, também habita aquilo que é falho, finito ou feio, surge uma acalentadora empatia que nos despe da prepotência e nos aproxima de um ser ou situação que pode mostrar então, suas outras faces.
É como quando chegamos numa festa de um país de hábitos diferentes. Aqueles que chegam com o espírito aventureiro, de um verdadeiro "antropólogo", logo se integram à festa, aprendem a dança local e se esbaldam no divertimento e conhecimento das nuances de uma cultura nova. Mas há aqueles que não conseguem desvencilhar-se dos seus hábitos de pensamento. Frente ao desconhecido, dão um passo atrás e voltam ao hotel reclamando do barulho da festa. Ficam na sua zona de conforto. Assim é numa empresa, numa relação nova...
Pois a humildade pode se fazer uma ferramenta, não só de passividade ou de aceitação daquilo que não nos parece normal, mas constitui-se uma ferramenta de busca, de movimento e de quebra de barreiras - “dos desníveis” – da nossa ignorância . Já dizia Miguel de Cervantes:

“A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja.”

Para enxergar o que há de virtuoso além do nosso nariz, é preciso descer do pedestal... Pois que no aventuremos na busca pelo que há a nossa volta, com este nobre instrumento da personalidade, num exercício diário, nesta festa que nos foi dada... antes que enfim, se apaguem todas as luzes.

Namastê!

FW

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