Quase todos os fenômenos que
compõe uma infância, tem agregado um quê de nobreza. Até mesmo quando
brigávamos, sabíamos que não era para valer. A surra não podia machucar muito.
Tínhamos uma espécie de “fair play” interior, que era prontamente ativado
quando passávamos dos limites.
A infância carrega lições poderosas, lições que interlaçam os
nossos pensamentos e hábitos até hoje. Não é muito raro em situações que
requerem um julgamento moral, seja na escolha de não estacionar em local
proibido ou mesmo em escolhas que envolvam sair em vantagem por sobre alguém, algo lá, lá
do fundo de nossos sentimentos, enraizados naquela criança, algo nos faz sentir
a noção de certo e errado, como antes já o fora sentido.
Víamos nos olhos dos adultos a esperança refletida de nossas
próprias existências. Era um peso que carregávamos e que logo se dissipava por
entre brincadeiras despreocupadas. Mas sabíamos lá no fundo, que carregávamos
uma responsabilidade, de seguir os nossos sonhos. Isso era sentido, parecia
tudo muito claro... Uma das coisas que nos faz falta, nesta vida de gente
grande, é justamente esta obviedade dos sentimentos... Agora para fazer
sentido, parece que racionalizamos em tudo. As coisas precisam ter um porquê de ser. Tenho aquele
relacionamento, pois já é hora de me relacionar com alguém. Todos compram, tenho de ter também. Contudo, as coisas legais da vida ocorrem justamente quando se foge disto tudo. Por isso que, após uma viajem, contamos com entusiasmo justamente as coisas que fugiram ao plano.
A vida pode ficar muito chata se abandonarmos os nossos pequenos “EU`s” . A vida pode ficar muito complexa se não seguirmos o que foi já
sentido lá trás, nos redutos de uma infância pura de nobrezas. A vida é uma
para não se seguir o coração de uma criança.
Fernando
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