quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O mundo de voltas distantes



Eu tenho agora que voltar a minha escola
Que ensina a força do perto com as palavras do longe
Que acalma a perguntares com a nostalgia do certo

Agora hei de ficar mais forte
Lá na finitude do ser, com os olhos abertos
Hei de chorar com a possibilidade de um novo partir
Hei de ficar por lá e quem sabe melhor serei
Sabendo o que hoje ainda não sei
Talvez descubra que lá o ficar de vez
Enobreça ao homem que em despedir-se
Insiste por ali

Veio o tempo. Vieram juntas as belezas de um novo momento, seu presente, seu único nascer possível, sua única chance de existir. Em seus segundos, digeria agora os fragmentos de sua existência...

Eu vivo o silêncio de um ir
Eu sofro o desejo de estar de volta ali
Eu tenho a coragem de permitir
De estar agora longe de um dia partir

Eu quis suportar o escuro sem desistir
Só para provar das camas que eu não dormi
Eu quis dizer à saudade por onde vivi
Sem saber que um dia ela me diria
“Tu sabes agora a dor do não estar aqui”

Bem se sabe agora o poder de sorrisos repetidos
Destes que o peito já conhece, destes que nunca se esquece
Bem se sabe a força de bons abraços, daqueles beijados
Que apertam a distância assim espremida
Com gotas da manhã a correr peito afora
Até formarem imenso rio,
A desembocar na mais profunda das saudades

Ah se não fosse a distância um saber da importância de um sorriso perto
Seriam os dias bons, elogiados sempre com rosas
Em longas prosas, sem o espírito ousar se entediar
Só por ali perto estar, o jardim, que de todos os tempos,
Mais lhe serviu, mais lhe vestiu, mais lhe trouxe amor
Ah sem dúvida ficaria lá, sem ao menos pestanejar

E assim colheu seus frutos naquela terra de ninguém. Soube tirar da chuva a respostas a sua inquietude, pelo simples colher de suas flores. Era feliz, era força motriz e em sua frente unicamente o seu nariz. Queria agora o mundo afora. Queria saber quando o passo seria seguido de outro. Se punha de migrante dos mundos, era novamente feliz assim...

Mas é o perto o grande incerto
Do não saber do que ocorre do lado de lá
Lá na lonjura, na cidade que fica a Deus-dará
Sem o lá de lá, não se aprende a felicidade que tem um voltar
Do milagre que é reconhecer uma rosa entre outras mil
Do encanto das lágrimas em outros olhos
Tão seus, tão meus, que choram...
O simples estar aqui




Fernando Wolf



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