quinta-feira, 1 de julho de 2010

Amor de Carvalho

O amor vem ao acaso, já está no nosso destino ou no nosso Karma como queiram. O amor romântico ocidental que nos é conhecido tem como mensagem o comprometimento apaixonado, possessivo erótico, onde duas almas se entrelaçam em uma só formando um elo entre dois amantes onde não há nada que o faça romper mesmo depois da morte. Quem não acha bonito o amor maduro entre casais da melhor idade e quem não sofre junto quando vê a tristeza da alma de quem fica chorando o vazio de quem já se foi. Este amor que sobrevive às agruras do tempo que sim, é passível de admiração e comoção.
A maior prova de amor que já vivenciei foi a de meu bisavô, uma pessoa humilde de tratos que se criou no interior com as mãos sempre calejadas pelo trabalho árduo do campo. Ignorante talvez de saber, porém sábio no amor. Já era casado com minha bisavó há 60 anos. Ela se esvaindo em seu leito, impossibilitada já de se locomover por seqüelas da moléstia que a assolava. Mesmo diante de tal fardo minha bisavó sempre via ao seu lado o seu fiel companheiro. Um dia, numa entrevista a um jornal local, onde os dois falavam com dificuldade o seu carregado português que se confundia com palavras em alemão, meu bisavô foi interrogado pela jovem jornalista com curiosidade – o senhor não se diverte ou sai de vez em quando?
Ele com seus 85 anos, sentado ao lado de sua esposa, segurando sua bengala que já se fazia presente por seus ossos que pesavam, argüiu de uma forma muito clara e singela:
-- Quando nos casamos, havíamos feito uma promessa que estaríamos presentes nas horas boas e ruins da vida. Já tivemos nossos momentos de felicidade e bem estar. Agora é um momento difícil e me faço presente da mesma forma que ela se fez presente em todos os momentos de nossas vidas.
Foi com estas palavras que vislumbrei o mais belo significado de um amor maduro, elevado espiritualmente. Quando se ama uma pessoa verdadeiramente, amamos por inteiro. Descobrimos o amor pelas aptidões que encantam, as qualidades que comovem, o sexo, os sorrisos e assim por diante. No entanto, isto por si só não define o amor pleno. Amamos também um todo, um ser imperfeito, um ser que te traz mágoas e alegrias, que compartilha e saboreia a vida ao seu lado simplesmente por amar.
Quando a vida traz momentos difíceis, tempestuosos e esse ser que te ama e é amado sofre com você ou traz sofrimentos, é também na superação destes males onde encontramos a magnitude do amor. São nestes momentos que o amor se regozija, se torna forte e maduro. É este o amor que vemos nos olhos dos cada vez mais raros casais que perduram.
Uma relação que se faz com amor verdadeiro é, como o carvalho, repleto de estigmas trazidos pelas intempéries do tempo, onde podemos olhar ao passado e ver que cicatrizes deixadas não foram capazes de destruir seu cerne, o amor. Este somente se tornou mais forte e belo.

Fernando Wolf

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