Meuserseu
Retalhos de uma vida
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
A construção da beleza
Penso a beleza dos teus olhos matinais
O café na xícara branca entre teus dedos
Os braços repousando a mesa
O teu corpo levemente inclinado sobre teu decote
Tua pele que suaviza o ar que a toca
As migalhas de pão
O som de Tom e Vinícius
A hora mais tarde que de costume
O que trago de belo de meus sonhos
Junta-se ao incompleto de meu peito
Junta-se a impressão de minhas retinas
Numa miscelânea de sentidos
Sob teus olhos matinais
A mais bela sorte de viver
Este quadro já findo
Mas que enfim pude gozar as cores
Desta breve ilusão de ser
Fernando Wolf
segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Desaguado
As fugas de minhas cartas
Repelem o chão que pisei
Hoje não foi um dia bom
Mas quando tomei o café
Tomei a esperança que a cafeína traz
Alias a esperança
Ainda teria valor?
Como um fio de seda que suporta todo o peso de uma vida
Este ultimo recurso da alma humana
Neste mundo e nos mundos que se passaram
Será que é digno, o zelo de nossa vida,
Soprado em esperança?
Acho que a dor da esperança é a sua mudança
Qual estado será pedra?
Até mesmo a pedra evapora migalhas e depois
Pó!
A esperança da pedra é uma,
De não virar pó
E a do pó, qual seria?
A mutação, mais rápida do que a dos seres inertes
Para nós, os vivos
Derrete a esperança no estado líquido
Como uma criança que canta
Despedindo-se da infância
Que o tempo lhe roubou
Vem então o homem menino
O gay transvestido
A mulher e o Rivotril
E a esperança vai diluindo-se
Em drinks
Em noites,
Da brisa tropical noturna da praia de Iracema
Do crepúsculo de um alvorecer marinho
Sozinho
Aqui este pequeno poema
Sorrateiro quando findo, despede-se revendo
Aqueles dedos que já escreveram
Toda a esperança que neste mundo já se desaguou
Com amor,
Vivo
Fernando
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
Não,
Nunca alguém feito
Ou aconchego de um ventre
Sempre um movimentar dos pés
Que desatentos,
Chutam as pedras que vêm à frente
Sem propósito,
Um jogador que não sabe a sua partida
Volta a jogar as peladas no campinho vizinho
Com cheiro de grama na chuva
E acaba por acertar o vidro da janela do condomínio
Que amanha, vence,
E se não pagar,
Empurram mais juros...
Insipiente vida
Ou vida insipiente
Quando em metade das horas, metade de si
Sente que a outra metade já deve ir embora
A que fica quer ir sem demora
A que já foi
Quer voltar ao que restou de outrora
Às vezes, com a os passos insipientes
Penso que voltar já é tarde
E vou ao banco pagar
A vida que decidi (,) por fim
Mesmo sem querer que este fosse seu fim
Um morrer de mim
Na insipiência de qualquer coisa
Deus me livre!
Desta insipiência
De toda arte de se viver
De qualquer um que queira ser
-->
FW
terça-feira, 17 de outubro de 2017
Catarro preto
Dos carros que passam
Milhares de carros pretos
vindos de qualquer
costaneira paradisíaca
Sobre as cabeças de milhões
Dos que veem a distancia aumentando da estrada
E a dor no peito vai aumentando junto
As pedras que levam as rodas
Dos carros que passam ao longe
Ardem no calor, secam o suor
que secam na beira do asfalto
O catarro nobre e instruído
De alguns que cospem lá de cima
Bem cuspido, aquele cuspe que não volta
Ficou fácil de limpar pulmões nobres
E cheios, repletos de catarro
Um sistema de sanitária vertical
Que respinga em chinelas,
Quando não na cara
Dos que nem força de cuspir tem
Estes já secaram junto com o asfalto
Que eles mesmo construíram
E a dor no peito
A chinela suja
A pinga reta
Faz esquecer
A última lágrima seca
FW
domingo, 6 de agosto de 2017
O que faria se não poesia
Minha fragilidade celular
Minhas companhias ausentes
A melancolia que insurge qualquer domingo
Não fosse a poesia
A sua melodia, o seu céu, seus amores
De que valeria minha vida
Se não poética,
Seria minh`alma coberta de piche
Afundaria em qualquer pântano
Em lama e tristeza
Mas a toalha depois de um banho frio
A bolacha Maria depois de um dia de piscina
Tudo em versos me limpa
Leva meus pensamentos ao mundo acolhido das linhas
Aqui nestes versos, a suavidade de qualquer coisa
De qualquer liberdade para além da janela
-->
Aqui, meu mundo sorri perante meus próprios olhos
FW
sábado, 15 de julho de 2017
"Make America Great Again"
Boa imersão!
terça-feira, 4 de julho de 2017
A era diamante
Vivo num mundo vazio
Onde nascem crianças todos os dias
E já nascem em terras mortas
Inertes e minerais
Pelo caminho, muitos diamantes
Tudo reluz, mesmo sem um feixe de luz qualquer
Tão distintos
Lindos desfeitos, grandes irrisórios, polidos toscos,
pobres abonados pobres,
Iguais
Iguais
Todos que nasceram na era mineral acabam por tornar-se
catadores
de seus próprios sonhos e diamantes
São tantos diamantes
Que se vendem agora também em feiras
Qualquer um pode ter diamantes
Não há mais limites
São sacos e sacos de diamantes
E o caminho vai ficando cada vez mais pesado
Não tem uma espinha que aguente no fim do dia
O começo então... quem quer levantar para andar neste
caminho de tantas pedras brilhantes?
São tantas bonitas... cansam só de pensar em levar mais uma que encontrar no caminho
Mas, quem sabe os olhos de outros ainda possam gostar
De ver braços sacrificados de tantas pedras carregar
E aí quem sabe, não mais viver-se–á o arrepio
De não ter mais olhos a te cuidar
Eis o feitiço, ridículo
Nem nada mais
senão o sonho de
tantas pedras
e o pesadelo de não vir a ter forças para carregar
andando como tolos sem pedras
Quem que anda sem pedras?
Ora ou outra, um passarinho
Com os olhos brilhantes
Outro tipo de luz
Passa
Ele está acima de certa forma
De certa distância, ele voa!
Ele não nasceu pelas pedras
E o que ele leva então?
Como pode viver sem uma pedrinha que seja,
Naquele bico tão pequeno... ( ? )
Não conseguiria ter um bico assim,
Não com o tamanho das pedras que quero
Não com o estômago doente
Com esta fome estranha...
Eu me sento
E me calo diante de meu ridículo
Estou preso e pesado
Com a boca cheia de pedras
Uma vontade de cuspir tudo
Me deixa feliz
Mas,
São diamantes...
Preso mais uma vez, eu me engasgo
Eu tusso e cuspo
Com cuidado para não caírem pedras
Mortas como eu
Eu engulo o seco
Daquilo que enche minha boca
E não sacia minha fome
Estou preso na fome
FW
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