terça-feira, 4 de julho de 2017

A era diamante




Vivo num mundo vazio
Onde nascem crianças todos os dias
E já nascem em terras mortas
Inertes e minerais
Pelo caminho, muitos diamantes
Tudo reluz, mesmo sem um feixe de luz qualquer

Tão distintos
Lindos desfeitos, grandes irrisórios, polidos toscos,
pobres abonados pobres,  
Iguais

Todos que nasceram na era mineral acabam por tornar-se catadores
de seus próprios sonhos e diamantes
São tantos diamantes
Que se vendem agora também em feiras
Qualquer um pode ter diamantes
Não há mais limites
São sacos e sacos de diamantes
E o caminho vai ficando cada vez mais pesado

Não tem uma espinha que aguente no fim do dia
O começo então... quem quer levantar para andar neste caminho de tantas pedras brilhantes?
São tantas bonitas...  cansam só de pensar em levar mais uma que encontrar no caminho
Mas, quem sabe os olhos de outros ainda possam gostar
De ver braços sacrificados de tantas pedras carregar
E aí quem sabe, não mais viver-se–á o arrepio
De não ter mais olhos a te cuidar

Eis o feitiço, ridículo

Nem nada mais
 senão o sonho de tantas pedras
e o pesadelo de não vir a ter forças para carregar
andando como tolos sem pedras
Quem que anda sem pedras?



Ora ou outra, um passarinho
Com os olhos brilhantes
Outro tipo de luz

Passa


Ele está acima de certa forma
De certa distância, ele voa!
Ele não nasceu pelas pedras
E o que ele leva então?
Como pode viver sem uma pedrinha que seja,
Naquele bico tão pequeno... ( ? )

Não conseguiria ter um bico assim,
Não com o tamanho das pedras que quero
Não com o estômago doente
Com esta fome estranha...

Eu me sento
E me calo diante de meu ridículo
Estou preso e pesado
Com a boca cheia de pedras

Uma vontade de cuspir tudo
Me deixa feliz

Mas,
São diamantes...

Preso mais uma vez, eu me engasgo
Eu tusso e cuspo
Com cuidado para não caírem pedras
Mortas como eu
Eu engulo o seco
Daquilo que enche minha boca
E não sacia minha fome

Estou preso na fome



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