sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O silêncio

Vi a angústia de uma médica residente envolta por emoções e constrangimentos em meio a um processo de aprendizagem de transmitir a notícia de morte aos familiares do paciente falecido.
A residente compartilhou para seus “semelhantes”, logo após sua experiência, como que haviam ocorrido os fatos.
A experiência que ela dividia com os colegas era contada com palavras floridas, palavras atrapalhadas em uma miscelânea de sons que tentavam em vão acalmar suas próprias angústias e não a angústia alheia. Ato este inconsciente isenta é claro, de culpa.
Foi aconselhado à jovem médica o silêncio
Assim, saímos daquele encontro pensantes, pois, como alunos, sabemos que hora ou outra o destino nos colocará frente a semelhantes experiências.
Tomei a angústia alheia e pensei: Tem o silêncio pelo silêncio algum valor numa ocasião de sofrimento?
Palavras eram para mim até então a melhor escolha. Eu sei bem que, se quiser, desenterro umas cinco ou seis palavras de consolo e jogo-as em um discurso melódico. Parecia-me que tal discurso era o melhor alento a um coração em desespero, que sofre.
Já o silêncio parecia que nada era senão o silêncio, o vazio. Contudo, em uma de muitas “garimpadas” na internet (YOU TUBE) assisti a um vídeo de uma orquestra sinfônica que se preparava para apresentar uma peça de John Cage intitulada 4` 33``. O maestro se posicionou, a platéia terminou de aplaudir e a orquestra empunhou seus respectivos instrumentos. Eis o inesperado: o silêncio. O mais absoluto e ensurdecedor silêncio “tocado” por quatro minutos e trinta e três segundos.
Surgiu em mim sensações nunca antes experimentadas diante do silêncio. Repulsa, admiração, expectativa, angústia, paz. Essas sensações me alavancavam sentimentos. O maestro no fim agradeceu e a platéia quebrou o silêncio aplaudindo de pé.
Que coisa absurda! Fantástica! Sei lá!
Fui atrás de Cage na internet. Acabei por entender um pouco daquela inesperada “loucura”. Cage, em uma entrevista, afirma que tinha paixão pelos sons da vida (trânsito, pássaros etc) e um dos efeitos que mais gostava era o silêncio. Ele afirmava:
- “Se você escuta a Beethoven ou Mozart eles serão sempre os mesmos agora o barulho do trafego de carros é sempre diferente.”
Pois foi assimilando a emoção de “ouvir o silêncio” que vi seu papel na situação citada anteriormente. O silêncio é original, é sincero. Se quisermos passar conforto a um coração que sofre angústia, nada mais verdadeiro que o silêncio.
Com palavras corremos o risco dos jargões e acabamos por nos passar por falsos condolentes.
Não é verdade que quando conseguimos ficar em silêncio com um amigo ou com uma paixão, nos sentimos mais próximos a ele/ela? Sim. O silêncio pode aproximar.
Faço um convite: se desafie a utilizar mais esta ferramenta e desfrute de novas sensações nunca antes sentidas. Partilhe o silencio.

Fernando Wolf

Um comentário:

  1. "Hilel, o Velho, disse: 'Quando os eruditos não estiverem ensinando Torá ao povo, você deve disseminar Torá. Quando os eruditos disseminam a Torá, você deve permanecer recatadamente no fundo da sala, de modo a não competir com eles.'" (Berachot 63a)

    Se você deseja entrar no assunto das vantagens de por que é melhor ouvir do que falar, aqui está algo para pensar...

    "Mesmo um tolo, quando segura a língua, é considerado sábio." (Mishlê 17:28)

    "A voz do tolo é conhecida por uma profusão de palavras." (Cohêlet 5:2)

    "Na profusão de palavras o pecado não falta; mas aquele que fecha os lábios é sábio." (Mishlê 10:19)

    "Para tudo há um tempo, e um tempo para cada propósito sob os céus... um tempo de manter o silêncio, e um tempo de falar." (Cohêlet 3:1,7)

    Shim'on ben Gamliel disse: "Toda minha vida eu cresci entre os Sábios, e não encontrei nada que fosse melhor para meu estar físico que o silêncio... aquele que fala muito provoca o pecado." (Ética dos Pais 1:17)

    Shamai disse: "Fale pouco e faça muito." (Ética dos Pais 1:15)

    Rabi Akiva disse: "Uma cerca para a sabedoria é o silêncio." (Ética dos Pais 3:13)

    "Uma palavra por uma selá (moeda antiga), silêncio para duas." (Meguilá 18a)

    "Silêncio é bom para todas as aflições." (Meguilá 18a)

    "Silêncio é bom para o sábio; e muito mais o é para o tolo." (Pessachim 99a-b)

    "O Eterno, bendito seja, disse à língua; 'Todos os membros do homem são eretos, mas você é horizontal. Eles estão fora do corpo, mas você está dentro. Além disso, Eu a rodeei com duas paredes, uma de osso e outra de carne.'" (Midrash Tehilim 52:6)

    "Sou o dono da palavra: depois que eu falo, a palavra é minha dona." (Ibn Gabirol)

    "Quanto menos a pessoa fala, menos erra."

    Um tolo diz aquilo que sabe; um sábio sabe aquilo que diz." (Rabi Simcha Bunim)

    "Assim como é característica das pessoas espirituosas dizer muito em poucas palavras, demonstra pouco espírito quem fala muito e nada diz."

    Rabi Levi Yitschac de Berditchev disse: "Duas coisas aprendi de meu mestre durante a última visita que lhe fiz: Quanto menos a pessoa fala, mais perto está da santidade; e o único ato bom que é valioso é aquele sobre quem ninguém sabe."

    "Há pessoas que tem alguma coisa a dizer, e há pessoas que têm de dizer alguma coisa."

    "Certifique-se que o cérebro está engatado antes de pôr a boca em movimento."

    "Você jamais terá de explicar alguma coisa que não disse."

    "Falar é prata, mas o silêncio vale ouro."

    "Uma pessoa madura reflete antes de falar; um tolo fala, e então reflete sobre aquilo que disse."

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