No
outono húngaro de dois mil e oito, era Debrecen cidade dos galhos secos, da grama ainda verde, do vento suave e gélido. Ao lado, uma igreja gótica de pedras escuras e lá
ao fundo, uma voz de tons convictos e retilíneos a cantar: Padam... padam...
padam... Aproximo–me e vejo uma senhora
de cabelos curtos com tons avermelhados a desprender sua bela voz nesta melódica
canção. Em passos distraídos, vinha-me a curiosidade ociosa: que música era
aquela que continuava a ressoar entre minhas orelhas?
Aproximadamente
um ano mais tarde, numa praia, num agradável verão de Santa Catarina, vieram
aos ouvidos sequenciais deleites musicais - escolhidos ao acaso - de tons femininos e firmes tal qual daquela
mulher dos cabelos de fogo. Em uma destas músicas, novamente entoavam palavras
que já guardavam sua intimidade: Padam, padam padam... reconhecidamente era
Piaf.
Era
dezenove de Julho de dois mil e quinze, sete anos após aquele outono. Uma
manhã de cama, lençóis e cobertas, de
tato da pele recém acordada, de cabelos sobre o teu rosto, do chuveiro que nos despertava e da cama que nos chamava
de volta. Músicas para esta manhã eram preguiçosamente selecionadas e, por
gentileza de caminhos, vieram novamente aos ouvidos: Padam... padam...
padam....
Teus
olhos musicais logo mostraram-se arregalados e disse-me soprosamente ao ouvido:
uma valsa!!! Foi neste dia que aquela mesma música era redescoberta em valsa.
Foi neste mesmo dia, que se ousou a
dançá-la numa revolução de almofadas. Numa nudeza de embaraços, num lapso de
deixar-se feliz, dançamos deliciosamente ao ritmo de padam... padam... padam...
um dois três... um dois três... o tempo se fez Piaf e a música se fez
embalar... padam dois três... padam dois três... padam... padam... padam... e em fim dançamos a mais bela estação daquela música.
FW
Padam...
Padam...
Cet air qui m'obsède jour et nuit
Cet air n'est pas né d'aujourd'hui
Il vient d'aussi loin que je viens
Traîné par cent mille musiciens
Un jour cet air me rendra folle
Cent fois j'ai voulu dire pourquoi
Mais il m'a coupé la parole
Il parle toujours avant moi
Et sa voix couvre ma voix
Padam...padam...padam...
Il arrive en courant derrière moi
Padam...padam...padam...
Il me fait le coup du souviens-toi
Padam...padam...padam...
C'est un air qui me montre du doigt
Et je traîne après moi comme un drôle d'erreur
Cet air qui sait tout par coeur
Il dit: "Rappelle-toi tes amours
Rappelle-toi puisque c'est ton tour
'y a pas d'raison pour qu'tu n'pleures pas
Avec tes souvenirs sur les bras..."
Et moi je revois ceux qui restent
Mes vingt ans font battre tambour
Je vois s'entrebattre des gestes
Toute la comédie des amours
Sur cet air qui va toujours
Padam...padam...padam...
Des "je t'aime" de quatorze-juillet
Padam...padam...padam...
Des "toujours" qu'on achète au rabais
Padam...padam...padam...
Des "veux-tu" en voilà par paquets
Et tout ça pour tomber juste au coin d'la rue
Sur l'air qui m'a reconnue
Écoutez le chahut qu'il me fait
Comme si tout mon passé défilait
Faut garder du chagrin pour après
J'en ai tout un solfège sur cet air qui bat
Qui bat comme un coeur de bois