domingo, 4 de janeiro de 2015

Nascer e morrer das noites






À noite, gosto quando o mar espalma sua mão por sobre a areia e se faz em mosaico de espelhos a refletir todo o monumental universo . Ali fico eu homem pequeno diante daqueles dois gigantes que se fundem num mesmo plano, numa amálgama de mistérios de toda existência desta vida tão louca. Meus pêlos se eriçam e num frenesi existencial minhas mãos ficam quentes, as lágrimas vêm ferventes a se misturar às espumas de prata, ao cheiro do mar, de um todo por vir e que se pode acabar logo ali.

Ah que vontade de um amor
De toda tristeza do seu sofrer
Em solos férteis da saudade
A grama ainda molhada pisar
Num despir do orvalho
Das manhãs de um domingo manhoso
O sol que entra na janela
Com cheiro de manhã dá bom dia
Ah... a alegria!






No entardecer, quando rabos de galo se desenham no horizonte e do topo dum morro de matas e bromélias, já sinto que se faz potencial espetáculo de cinco e tantos minutos como nunca já visto. Logo ali a nostalgia de tantos outros sóis que, enrubescidos ao ver da lua, se caíram por sobre o mar. Gosto daquele logo antes, quando o entardecer dá a última chamada para os lares, como uma sineta de fábrica, alertam os que trabalharam com muita alegria esperando as suas Marias que aguardam com saudade o seus Josés, com tempero de louro, logo logo, o retorno. Os passarinhos voltam ao seus ninhos  e aos poucos tudo vai se calando, tudo vai ficando pra trás... Ah como gosto do silêncio de um entardecer


Dorme meu bem que você também é Iemanjá
O que tanto sofreu se foi
E o que está por vir, não sei
Só sei que morro de amor
Quando cantas a mim “Meu bem”




O amanhecer bom é ao lado de alguém com sabor de beijo, que dá a alegria dum sorriso sem motivo, com gosto de café e bico do pão, a maestria do trigo e das mãos de quem guarnece no alvorecer o seu trabalho. Bom mesmo é o amanhecer não dormido, aguardado por quem não precisou ser despertado, mas estava ali na espreita do nascer daquele que já tinha dado adeus a morrer no horizonte. Ah como se renova a esperança, esta continuidade fantástica da vida que se refaz em ciclos de maestria alaranjada em fios de fogos no céu.

Hoje é dia da cama de quem nada reclama
Nem de amor nem de sofrer
A paz está em adormecer e readormecer
E assim ininterruptamente 
Ao lado de quem não quer que se vá
Menina que se vá a dormir, se vá!
Mas não vá lá sem mim

Amo isto sim!



FW

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