terça-feira, 17 de junho de 2014

O despir das lágrimas







Era uma questão de tempo até que nossos corpos se cansassem. Os mesmo corpos que já  enlaçaram-se em volúpias de toda intensidade da paixão, no seu mais intenso sentido.
No que nos resta, no agora, num olhar para trás, ali... as lágrimas ainda vencem a barreira de um não querer despir-se. Mas, se um dia tua ausência já foi sufoco, hoje... ah hoje... ela se toma por dona de uma saudade apraz. Um sentimento tenro que soube se aconchegar em algum canto do peito e que lá ficou tal qual um cão que chora por um dono que se foi. Por vezes, em sonos intranquilos, no rolar do meu corpo, aquele seu rosto vem a se mostrar em sonhos, em desejos ocultos, ah e por que não.. na mais doce melancolia...
Nosso amor foi desenhado num papel e entregue em mãos sem forças, de desejos vis. Foi-se a voar ao vento numa praia bucólica e lá desmaterializou-se, a saudade ruiu, o encanto se misturou na mansidão das ondas a rolar na areia onde aquela pequena nota virou mais uma partícula dentre tantas outras lembranças.
Mas... mesmo que remoto o hoje seja, é ainda nossa a mais sentimental das saudades, daquilo que só pôde ser vivido de um irresistível jeito, inconsequente em seus atos. Irrefutável era não viver da forma como vivemos, por mais que se aprumasse um  silencioso partir nos nossos horizontes.
Era teu corpo meu e o meu espírito teu, naquele breve momento, tudo era como deveria ser. Um emaranhado de pernas, fôlegos e braços, na delicadeza de beijos suspirados ao ouvido de quem ouvia o amor desabrochar em si. A pulsão da nossa juventude era desmistificada nos centímetros da tua pele e nos meus mais insanos devaneios...
Pois, não mais que os anos, vieram a justificar as desistências de tudo o que nos era próximo. Tornamo-nos espectadores de um destino que se encarregava de acalmar os ânimos e calou, com a insistência de uma goteira por sobre a pedra, aos nossos mais ocultos desejos.
A distância arraigou-se na plenitude de caminhos percorridos. O sentimento dum peito calejado se fez sádico em destiladas melancolias de um não cheirar do perfume dos teus cabelos, de um não  sentir o peso do teu corpo por sobre o meu, de um não ouvir a consonância de nossas músicas.
Sim... como se faz saudoso o reviver de cada personagem criado unicamente para tragédias tão nossas, sobre o olhar de uma plateia escondida por entre lençóis que aplaudia  em cada “grand finale” o ruir de mais um desafeto...
Mas agora, minha querida senhora... escute a si,  que eu escutarei a mim... escute aquela música... ah como foi doce...
O passado é de fato um amigo distante, além mar, que está por detrás do horizonte, a guardar as nossas noites enquanto brindamos a mais um dia que se faz sorrir. Até o fim de nossos tempos... É tudo sim, uma questão de tempo...

Au revoir, mon petit! Que bons ventos te levem, para onde fores, para onde viveres novos amores.




Fernando Wolf

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