terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um mundo velho



O mundo está ficando velho. Teremos que aprender mais e mais a conviver com os velhos, ou melhor, teremos que ensinar mais e mais esta convivência. Afinal seremos nós os velhos do futuro. Atualmente, temos 15 milhões de idosos no Brasil (8,6% da população) com a perspectiva de chegarmos ao dobro de idosos em 20 anos (13% da população). Há a tendência de uma melhora na qualidade de vida do idoso. Teremos um maior número de idosos alfabetizados, com maior poder econômico e se concentrando mais no meio urbano (onde há maiores condições de cuidados). Assim outra realidade está se moldando, aí a necessidade de um olhar mais cuidadoso com nossos idosos...
Assisti há muito tempo, uma reportagem onde um ator jovem se vestia de velho corcunda e andava pelas ruas. Foi uma surpresa quando se viu certa brutalidade com o “idoso” enquanto todo mundo (espectador) esperava calma e compreensão. Não sei se aquilo era medo projetado ou falta de educação mesmo (mais provável). O fato é que poucos param para olhar alguém de mais idade quanto as suas necessidades.
Observo os velhos. O seu andar lento e dificultoso. Por vezes, o entrave é doloroso e visível em suas faces enrugadas. Ver o velho angustia ao novo. Ali se projeta o futuro do novo. Ninguém quer perder sua vitalidade, seu tesão, sua pele macia, seus joelhos capazes e articulados. Muito menos, portanto, antever a tudo isso. Acho que por tal fato, tantos os ignoram. Quanto mais vêem aos velhos, mais se vêem próximos, maior a angústia, mais fácil a negação. Mas gosto de observá-los ainda assim. É quase um exercício – de empatia – olhar, deixar de lado seus medos, e observá-los.
Gosto de ver seus olhos profundos, tristes, distantes, atentos, curiosos, saudosos... Há muita história ali. Até porque a natureza tende a desprivilegiá-los de suas memórias recentes – talvez para esquecer mais fácil suas tão atuais moléstias. No entanto não os priva tão facilmente de suas doces recordações. Falam – e como gostam! – dos grandes feitos, das guerras, das dificuldades, como tudo era mais difícil e de como superavam tanta adversidade. São boas as suas histórias.  Ainda mais aquelas felizes, das aventuras de seus filhos – hoje já marmanjos – das suas empreitadas pelo mundo afora, dos “causos” ocorridos em suas comunidades que chocaram na época. Tudo cheio de emoção que faz os olhos até hoje se curvarem às lágrimas. Quantas glórias naqueles seres franzinos já se fizeram presentes, quantos amores já foram vividos, quantas desilusões também, quantos perdões já se deram para permitir o continuar da vida...
Fica um propor da empatia, pois além de maior atenção e compaixão para quem os anos deram o seu merecimento, a empatia é um exercício de preparação aos nossos inevitáveis futuros. Talvez o encarar da velhice como algo mais natural e presente, nos tire um pouco está atual e epidêmica corrida ­– estética e “mental” – aos padrões jovens de ser. A maturidade nos dá as benesses que só o tempo é capaz de trazer, porém é de cada um aceitá-las ou não com maior naturalidade.

Fernando Wolf

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2 comentários:

  1. Nando, primeiro Parabéns pelo blog, belos textos,ótimas reflexões!!!

    Concordo com vc, a empatia nos aproxima dos outros. E os "outros" somos todos nós!!!

    “Disse a árvore para o velho: outoniza-tes com paciência e doçura. As folhas caem é certo e
    os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons
    suaves. Outoniza-te com dignidade, meu velho”

    Carlos Drummond de Andrade .

    Fala, amendoeira.

    bjo,

    Lu

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  2. parabens pelo texto!! tbm acredito que muitos negam a velhice por medo do futuro. Deixar de ver a velhice como algo negativo e decadadente e sim como sinonimo de maturidade, nos traria maior aceitação e mais facilidade de lidar com os sinais físicos que decorrem do envelhecimento inevitável.
    beijos
    natii

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