quarta-feira, 22 de junho de 2011



Sua foto logo se colocou erguida na parede, central e imóvel.  Bonita o bastante para encaixar-se entre os lençóis de sedas dos meus desejos mais secretos. Meus pés já se botavam desalinhados pelos tremores do peito. Era tarde e meu coração pulsava embebido de prazer e receio. Talvez fosse ali fonte de néctar potável, conseguiria eu beber? Pois e se fossem caules finos com espinhos eriçados, conseguiria eu segurar esta lânguida rosa?
A paixão se fez precipício mais uma vez. Olhava o horizonte e caia de joelhos numa vertiginosa presunção de receios vindos lá do fundo deste sujeito. Era possível amar por um simples ventrículo escasso que se fazia pulsar? A cada batida, um desmaio da alma. “Preserve-me” dizia ela. “Veja minhas cicatrizes! Elas não te dizem nada?”
Fitava o horizonte mais uma vez. Antes dele se colocava reto e suntuoso o precipício que, com desprezo, deixava minhas mãos trêmulas e ingênuas, não sabendo mais o que palpar.
E se não saltar, nunca mais cabelos ao vento, nunca mais dormir no relento... Comer as uvas doces e frescas de um amor. Sim, se fazem valer...
Atirar-me ao esmo... Poderia sim cair em verde relva recoberta pelo orvalho, sentir o cheiro doce do jasmim recém florescido, onde o coração pudesse enfim se recostar em paz.
Não havia nada a perder senão o perder - pensava.  Não o tinha ainda mesmo, o salto era inevitável! De mão tremulas e de fronte úmida, o corpo se fazia pesado pelo medo. Tinha que ser aquela, pois há tanto tempo que não me sentia um garoto, senão com aquela mulher. E, como juvenil de ações, fazia-me novamente tábua rasa paralisado por seus olhos como se hipnotizado fosse.
Ali estava eu atônito, mirando aquele momento, como se nada me restasse, senão um segundo antes de um começar.
- Oi! – disse a ela, com os olhos arregalados.
 - Oi seu idiota, como se atreve? – pensava eu, com um quê de desespero e sensação de morte iminente.
 - Oi! – disse ela (ah "ela"...) com um sorriso de surpresa a me fitar com os seus olhos castanhos amendoados a expor o meu reflexo, de pavor...
Via-me em seus olhos, me via em sua vida. Já ficava claro o desejo de que aquilo durasse, ao menos em mim. Sim, já começava o discorrer do discurso amoroso.


Seja o que for, continua...

Fernando Wolf

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