quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Reinventado

Mãe, matei um garoto
Como na música
Foi na última noite
No último sonho
Minhas próprias armas, Tânato usou
Tudo o que persegui deixei para trás
Hoje velo o menino dos sonhos de teus olhos
Mãe, eu matei
Nada mais restou do garoto
Nada mais do que você sonhou
Aqui jazem somente as reais entranhas de meu eu
Desculpe, mas eu precisava jogar o menino aos lobos
Ele já não me servia mais
Neste mundo tão real
O amargor não permite ilusões
A precariedade dos seres sufoca garotos desprevenidos
Tive que fazê-lo
Quero a placidez de volta
A infância lá do longe
Sim, disponho agora da aridez da vida
E não adianta voltar
Resta seguir com o que sobrou
Mãe, agora estou só neste mundo
Tenho que remar adiante
Novos oceanos desbravar
E quem sabe um dia,
Por entre o perene tempo,
Possa desfrutar de uma infância reinventada
E repousar meu corpo cansado
Em tempestades que já não me façam mais chorar

Fernando Wolf

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